Artigos

Mais ou menos impostos: será essa a questão?

Uma discussão que penso que será urgente fazer é o da dimensão do Estado que queremos, pois ao não a fazer parece-me que não faz sentido discutir o peso do Estado na Economia ou a carga fiscal que temos e que vai aumentar novamente, este ano, na opinião de uns ou vai diminuir na opinião de outros.

Lembro-me de nos anos 80 do século passado ter tido uma conversa sobre o assunto com um colega holandês enquanto íamos a caminho da Universidade de Amsterdão, onde estive a passar alguns meses a fazer investigação. O tema dessa conversa foi o montante de impostos sobre o rendimento pagos em Portugal e na Holanda e esse meu colega surpreendeu-me ao dizer que ele e a maioria dos holandeses não questionavam o que pagavam de impostos, pois consideravam que o Estado estava a ser bem governado e sentiam que o dinheiro que era retirado do seu rendimento estava a ser bem aplicado. Devo dizer que fiquei surpreendido no início, mas ao longo da conversa fui percebendo que mais importante do que o que se paga é sentirmos que talvez o que paguemos não esteja a ser bem gasto ou estar a ser gasto em atividades que não nos parecem ser do campo de atuação do Estado.

Tendo utilizado os serviços médicos públicos, por causa de uma forte constipação, durante essa estada em Amsterdão verifiquei o que o meu colega me tinha dito porque não só as instalações estavam impecáveis como todo o atendimento foi muito bom e o médico teve o cuidado de me explicar tudo sobre as causas dos meus sintomas e os efeitos medicação que iria tomar.

Infelizmente em Portugal nem sempre se pode dizer o mesmo, em particular sobre o estado das instalações, o que nos faz ficar com a pergunta debaixo da língua: “Para onde vai o nosso dinheiro?”.

Como costumo explicar aos meus alunos é fácil pedir mais de tudo, mas é impossível ter mais de tudo quando estamos a ter uma gestão eficiente, por isso, depois de resolvidos os problemas das ineficiências, que estou certo de que existem, temos que decidir o que queremos ter mais e como o compensamos tendo menos de algo.

Não me parece realista continuarmos a deixar parte da conta para pagar pelas gerações futuras, portanto é, a meu ver, positivo que a proposta de orçamento apresente um saldo positivo e faço votos para que a versão final o consiga manter, mas tenho dúvidas que tal aconteça porque todos parecem focados em pedir mais e mais.

Em suma, parece-me que, dentro de certos limites, o montante pago de impostos não é relevante porque o que é importante é a opinião que temos sobre o modo como o dinheiro, que foi nosso, está a ser gerido e aplicado.