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Hoje faço anos

A velocidade de vivência foi aumentando à medida que crescemos

Penso que esta é a primeira publicação no dia do meu aniversário desde que escrevo estes artigos programados aqui no DN é a primeira coincidência, um artigo em dia de aniversário. São 77. Quase uma vida, cheia de coisas boas e de coisas más, de traições e mentiras, mas que felizmente dará um somatório de coisas capazes. Profissionalmente realizado com trabalhos para o desenvolvimento e engrandecimento regional. Recordo, porque os mais novos não sabem, a aplicação dos plásticos na agricultura, em que dei um grande pontapé de saída. Fui algum tempo, à minha custa aprender para Canárias em finais 1970 e no começo do ano seguinte, escrevi mais de quarenta artigos, aqui no DN, sobre esse assunto. Fui consultor, gratuito, de muitos que deram os primeiros paços neste tipo de culturas. Fiz o maior projecto da altura com mais de um hectare para a produção de cimbidios. Inovei em muitos sectores da agricultura porque passei a minha vida a aprender e ainda continuo...

A velocidade de vivência foi aumentando à medida que crescemos. Quando era miúdo o dia de Festa (Natal) nunca chegava e agora já passou. Queríamos ser grandes rapidamente e agora queríamos ser pequenos novamente. É assim o ser humano, vai acumulando sapiência e quando pensa que sabe quase tudo, começa a esquecê-la... Desde criança habituamo-nos a respeitar os mais velhos, que no dizer de alguém, mais velho é aquele que tem mais dez anos que nós, a respeitar aqueles que todos os dias nos ministravam conhecimentos, os nossos pais, os nossos avós e tios, assim como os professores desde aquele que nos ensinou o Abecedário e a Taboada, àquele que nos transmitiu conhecimentos para nos dar um titulo profissional. Os trabalhadores mais antigos eram respeitados no trabalho quer pelos outros trabalhadores, quer pelos próprios patrões e também pelos clientes que muitas vezes exigiam serem atendidos por determinado trabalhador, que de um modo geral estavam dentro da classe etária mais elevada. Os governantes eram respeitados, que muitas vezes dedicavam, praticamente, de maneira gratuita as suas funções a começar pelo “Senhor Regedor”. Hoje em dia são os próprios governantes a darem maus exemplos de inverdades constantes para sacudirem a água do seu capote e querem esconder a sua incompetência. Basta ler a comunicação social. Todo o governante que atira a responsabilidade para cima de outros é porque é mesmo incompetente, que nem consegue dialogar com quem tem o poder ou o dinheiro na mão.

Nos cafés, mal entravamos, os empregados mais velhos que conheciam todos os clientes, já faziam a encomenda ao balcão ou à cozinha daquilo que íamos consumir e quando nos sentávamos logo vinha esse empregado com o café, morno ou bem quente, curto ou cheio, desejando um bom dia “senhor fulano”, aqui está o seu cafezinho como gosta... outros tempos em que o próprio cumprimento sabia a respeito mutuo, a consideração. Tudo isso deu lugar a números. Vamos ao banco, à segurança Social ou aos CTT, tiramos uma senha e passamos a ser catalogados por um número e lá esperamos que o ecram, gigante ou não anuncie o nosso numero e também o numero do balcão. Deixamos de ser gente, deixamos de ter nome...

Os mais velhos, note-se que hoje em dia cada vez vivemos mais, são muito menos considerados e apesar da célebre lei de Salazar que só podia iniciar a sua carreira de funcionário público com uma idade máxima de 35 anos, ter sido extinta com o inicio da democracia, continua a haver uma limitação real. Quem aos 50 anos fica desempregado, tem muita dificuldade para arranjar novo trabalho, precisamente quando já tem mais sapiência acumulada....parece e é um contracenso, mas os patrões querem jovens, sem experiencia, sem vícios, também, sem conhecerem o que é o respeito, porque muitos dos papás foram chatear o professor e até a agredir porque não lhe deu aquela nota que acham que o filho merecia, ou que permitem que lhe faltem ao respeito mesmo em sua própria casa!!!! Enfim, velhos para trabalhar e novos para se reformarem sem grandes penalizações!!!

Recordam-se do tempo em que passava, o padre, o professor e outras pessoas muito respeitadas e se a pessoa tinha chapéu ou barreta, tirava-a para cumprimentar??? Agora estes utensílios estão novamente na moda por decoração ou por questões de saúde, alguém vê alguém tirar o chapéu no ato de cumprimentar outra pessoa?

Nos horários são raros os jovens que se levantam para dar lugar a uma senhora ou a um idoso. A palavra “delicadeza” foi banida desta juventude por culpa dos pais, assim como o “respeito”

Enfim, memórias que nos passam pela cabeça de vez em quando que no dizer dos mais novos, que se esquecem de tudo, reclamando de que esquecer é um direito, para justificar os seus erros, estou a ficar velho, mas mantendo os meus conhecimentos que adquiri ao longo de uma vida e como se costuma dizer, de cabeça fresca...