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Guaidó (EUA) versus Maduro (Rússia)

Começo por manifestar a minha sincera e profunda solidariedade com todos os cidadãos e cidadãs da República Bolivariana da Venezuela, particularmente com os portugueses, nomeadamente madeirenses, ou lusos descendentes, que ainda lá se encontrem ou que já tenham abandonado o país, em face das péssimas e lastimáveis condições em que o mesmo se encontra. Num tempo em que os regimes políticos ditos de esquerda, com economias centralizadas e no caso dependentes do petróleo para manter a taxa de crescimento anual em números positivos (exercício impossível hoje em dia), estão em falência por via da imposição de um estilo de vida orientado pelo consumismo, ou seja, pelas economias neoliberais onde produzir é o objetivo, mesmo que inúmeros excedentes dai resultem, as desigualdades mundiais se acentuem e o planeta definhe, é evidente que Maduro e as suas “tropas” há muito que ultrapassaram o prazo de validade. No entanto, desenganem-se os mais entusiasmados, quanto às preocupações dos Estados Unidos da América (EUA) e da administração Trump em relação ao sofrimento que o povo venezuelano enfrenta, pois o foco não estará com certeza nas pessoas, mas sim nas maiores reservas mundiais de petróleo de que a Venezuela é possuidora. A frase chavão (populista) de Donald Trump, “América first” (América primeiro) é bastante elucidativa da sua visão, a qual contribui para o propagar de uma visão intoxicada do mundo, semeando o divisionismo e a intolerãncia entre as nações. Atente-se no elevado preço pago pelas populações inocentes, nas intervenções dos EUA noutros países, como podemos ver pelas imagens que nos entram pela casa dentro através dos canais de televisão. Tão pungente realidade, pode levar-nos a equacionarmos se não seria melhor uma transição mais demorada por via da escolarização e incentivo ao exercício de espírito crítico dos povos dessas nações, deixando o tempo e eles próprios fazerem a sua revolução interna. Mas do outro lado da barricada, onde se encontra a (Federação) Rússia, o cenário não será melhor, pois a predisposição para entrar na “casa” dos outros também é antiga, e como sabemos o foco é também e sempre a questão económica. Na Venezuela, são sabidos os seus interesses nos campos de petróleo, pois será (é?) proprietária de grande parte que terá recebido a troco de empréstimos e resgates financeiros na última década. Mas veja-se o caso da Crimeia, província semi-autónoma da Ucrânia, onde bastou o presidente da Ucrânia ter feito um acordo com a União Europeia, para o poder imperial Russo invadir e anexar este território. Para além da posição geoestratégca da região, garantir o controlo da produção e distribuição do gás natural à Europa, seria (era?) evidentemente o objectivo. Em jeito de contraponto, e repetidamente, estão sempre presentes onde os EUA se posicionam com as sua ingerências. Seria bom que estas duas potências mundiais que se intrometem em todo o canto do planeta, desde que os seus interesses económicos possam estar em perigo, e que após o fim da guerra fria se continuam a degladiar, agora de forma diplomaticamente pública e cínica e subterraniamente “favorecendo” de várias maneiras o lado que lhes interessa, olhassem para o grave problema existente no Tibete, região alegadamente autónoma da China e onde desde a ocupação do país no ano de 1950, os chineses continuam a violar de forma grosseira e repetida os direitos humanos, suprimindo a cultura Tibetana por imposição da língua e costumes chineses, devastando as florestas, assim como usando zonas da região como lixeiras nucleares, como noticiam vários canais de comunicação social internacional. Também podiam olhar para o que igualmente se passa em matéria de violação dos direitos humanos no Saara Ocidental, ocupado pelo reino de Marrocos, que publicamente é conhecido mas pouco noticiado, ou pronunciarem-se pública e internacionalmente sobre a monarquia absoluta teocrática que despoticamente governa o Reino da Arábia Saudita ou, a fome e corrupção que há muito tempo estão instaladas em grande parte dos países de África. Como já alguém escreveu, entre a frigideira e o lume, venha o diabo e escolha.