Artigos

Ginjas não são, Estanquinhos também não. Será populismo?

Como resultado da consciencialização generalizada, a preocupação com o ambiente cresce em todo o planeta, sendo as diversas reações aos recentes fogos na floresta amazónica disso prova, tendo sido este aliás, assunto debatido na última cimeira em Biarritz, França, dos G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo, composto por: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido). Nós por cá temos um senhor Presidente do Governo Regional que afirma “vou avançar e concretizar a obra das Ginjas, quer queiram quer não“ (asfaltagem da estrada existente em terra batida, das Ginjas, São Vicente, aos Estanquinhos, no Paul da Serra). As mais recentes notícias vindas a público dizem-nos também que o senhor Presidente da Câmara Municipal de São Vicente alinha no mesmo diapasão, usando a afirmação “doa a quem doer”. É bom relembrar a estas duas personalidades, com responsabilidades especiais na gestão pública na região, que a estrada em causa atravessa uma considerável mancha de floresta Laurissilva, essa relíquia do Terciário (período à cerca de 20 milhões de anos) e que a Região Autónoma da Madeira tem “apenas” a maior e mais bem conservada área de floresta Laurissilva do mundo, com cerca de 15 mil hectares, correspondendo a 20% do território regional. Por se tratar de uma preciosidade, rara, no ano de 1999 foi considerada pela UNESCO, património mundial natural, o que como facilmente se compreenderá, nos trouxe enormes responsabilidades na sua preservação. É que a partir dessa distinção, essa floresta deixou de ser exclusivamente nossa e passou a pertencer ao mundo, tal é a sua importância e singularidade. Somos “apenas” e só, cuidadores/zeladores da floresta Laurissilva. Sempre pensei que os agentes políticos, como resultado da sua especial e nobre função, tinham a obrigação primeira de preservar o património não só regional e nacional, como também aquele que orgulhosamente partilhamos com o mundo. Argumentos vindos de autarca, transcritos na comunicação social escrita, de que a população de São Vicente não pode ficar no “rabo da lancha só porque certos senhores querem” e “é ridículo que se diga que somos a capital da Laurissilva, mas curiosamente querem que fiquemos impedidos de visitar o que é nosso” pode soar a demagogia. Ninguém quer uma coisa nem outra, bem pelo contrário. O que se quer é que os agentes políticos pensem no longo prazo e exerçam uma atitude esclarecedora perante a população, como seja informá-los de que não se destrói uma relíquia que pertence à humanidade, pelo eventual e pontual bem-estar material de alguns empresários que pensam que tal intervenção resultará num dinamizar dos seus negócios. Pois se alguém lhes explicar, claramente, o que está em causa, provavelmente mudarão de ideias e se não o fizerem é porque senhores agentes políticos, a vossa ação não tem sido esclarecedora quanto ao que é acessório e quanto ao que é essencial. As aspirações da população de São Vicente e o correspondente alinhamento pelo Presidente do município quanto a ter um concelho mais dinâmico do ponto de vista económico, são totalmente legítimas e compreensíveis, mas não se pode tentar (ilusoriamente) alcançar esse objetivo destruindo aquilo que é único e até “alvo de cobiça” por esse mundo fora. Tem de encontrar-se alternativas para dinamizar os concelhos do norte, nomeadamente São Vicente e pode começar-se, por exemplo, deslocalizando serviços públicos que funcionam no Funchal e/ou criar condições atrativas para a instalação de empresas, reduzindo taxas e impostos àquelas que o fizerem. Haverá outras com certeza, sendo aconselhável a construção de entendimentos entre autarquias e governo regional. Mas infelizmente o populismo impera, (leia-se dar ao povo o que ele quer, pois o povo não exercita o espírito crítico). Um exemplo claro deste facto deu-se quando recentemente se renomeou o aeroporto da Madeira. Se tivesse havido visão em lugar de populismo, o nome que se deveria ter atribuído era “Aeroporto da Madeira - Capital da Laurissilva”. Mas não foi