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Galardões

Ser agraciado implicará assumir a responsabilidade que tal representa

Atribuir prémios, menções honrosas, medalhas, títulos honorários instituiu-se como prática nas relações humanas desde tempos imemoriais. Das míticas coroas de louros da cultura universal, até aos mais cobiçados troféus dourados dos sucessos voláteis, este ritual instituído no inconsciente coletivo dos povos pretende reconhecer feitos heroicos, render homenagens, estimular valores, consagrar exemplos de conduta, tornar as comunidades mais coesas, salvaguardar tradições, património e memória, reforçar relações intergeracionais, estimular o respeito pelos mais velhos e valorosos. Poderá constituir-se até em afirmação de diferença. Mas, enquanto alimento do narcisismo e da inveja, eternas emoções do substrato do sentir humano, também afirmar orgulho cultural, bajular, enaltecer egos, exercer poder.

Isto de receber medalhas, distinções, títulos tem muito que se lhe diga. Envolve sempre prestígio duplo: para quem recebe, mas também para a entidade que atribui a condecoração; uns e outros beneficiam deste efeito. E dependendo da personalidade ou instituição, resta saber quem será o mais beneficiado neste processo. Importa olhar com algum distanciamento e frieza de ânimo... Ser agraciado implicará assumir a responsabilidade que tal representa... Há títulos que uma vez ganhos se colam à pele, com tanto de prestígio como quase de maldição... Porque envolvem algum condicionamento da liberdade individual e implicam um necessário compromisso com o que representam aos olhos do entorno social. Até podem ser retirados, caso se alterem as regras, ou a conduta do agraciado... Talvez por isso haja quem recuse receber distinções... Afinal tudo isso pode ser estratégia de dominação ou controlo, o reverso da medalha, a dualidade que acompanha todo o exercício da conduta humana ... Parece que se passa a ser domínio público... E incorrer em atitudes menos enquadradas pelos cânones sociais, cair em desgraça pode levar à perda da distinção atribuída... Como parece ser o caso badalado de certos figurões da nossa elite social... De anjo e demónio, somos um pouco feitos.

Vem esta reflexão a propósito do recente galardão atribuído à nossa região enquanto destino turístico de referência e de que depende tanto da nossa sobrevivência económica, obrigando a uma necessária e conveniente tomada de consciência para os diversos aspetos relacionados. É sabida a controvérsia à volta das vantagens e desvantagens de uma região ser um polo turístico. Há toda uma mais-valia económica daí resultante, porque se criam negócios, postos de trabalho, proventos fiscais, riqueza, mas é bom não esquecer o lado efémero da atividade, uma vez que por todo o mundo outros centros de atração vão surgindo podendo oferecer condições mais apetecíveis. E que uma das consequências é sem dúvida o aumento generalizado de preços em todos os bens e serviços, o que prejudica também quem aqui vive. E fico-me pelo exemplo das viagens aéreas.

Mas há questões que não é possível esquecer, e que se prendem com o impacto ambiental da atividade, em espaços insulares vulneráveis e limitados como é o nosso, mas e acima de tudo, na obrigatoriedade de cuidar desse mesmo espaço, em todos os aspetos, ordenamento, preservação e higiene incluídos. E infelizmente há muito a lamentar neste campo em zonas de forte afluência quer de turistas quer de naturais e que poderão ditar a perda de tão festejados galardões. A cada um de nós, mas sobretudo às entidades responsáveis exige-se compromisso e responsabilidade. Pode-se sempre aprender com os nossos irmãos açorianos aqui ao lado. É só ir lá ver...