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E por falar em Porto Santo...

Outras medidas poderiam ser levadas a cabo, como a ampliação da ciclovia até perto do centro da cidade

Ainda hoje me lembro do dia em que vi aquela publicidade institucional conjunta do Governo Regional da Madeira, Empresa de Eletricidade da Madeira (EEM) e Agência Regional da Energia e Ambiente, onde se afirma que o Porto Santo está a caminhar rapidamente para uma ilha sem combustíveis fósseis e com emissões de CO2 quase nulas. A primeira coisa que me apeteceu fazer quando vi essa publicidade foi aceder à página web da EEM e ver qual seria a evolução mensal do mix da oferta e das emissões de CO2 na ilha. Mas como estava a bordo do Lobo Marinho nessa altura, tive de esperar pacientemente que o barco chegasse mais perto do Porto Santo para conseguir dados móveis e fazer a pesquisa. Durante esse tempo de espera, aproveitei para pensar um pouco no assunto e realmente não me lembrei de nos últimos anos ter visto qualquer ampliação no Parque Fotovoltaico desde a sua inauguração em 2010, nem me recordei de alguma intervenção no Parque Eólico contruído nos anos 80, pelo que não me pareceu que essa caminhada para uma ilha sem combustíveis fosseis nem emissões de CO2 tão bem publicitada nesse anúncio, pudesse ser assim tão significativa.

Esta ideia de um Porto Santo Smart Fossil Free e sustentável, com prioridade na sua identidade histórica e cultural, ambiente e recursos naturais, inovação e desenvolvimento económico, pareceu-me perfeita. O aumento da qualidade de vida dos habitantes do Porto Santo e das pessoas que a visitam deve realmente ser uma prioridade, e é por essa razão que qualquer projeto que promova novas oportunidades para a economia local parecem-me de muito valor, principalmente quando têm a sustentabilidade como pilar.

Ainda no barco lembrei-me da recente instalação de lâmpadas led na iluminação pública do centro da cidade, que para além consumirem menos, oferecem maior segurança à população e aos turistas. Lembrei-me também da instalação de uns contadores inteligentes que possibilitaram suporte à auto-produção, e de umas dezenas de veículos elétricos que foram distribuídos por particulares, instituições e empresas da ilha. Tudo iniciativas muito positivas, mas que dependem sempre da minha principal dúvida: A evolução mensal do mix da oferta e das emissões de CO2 na ilha. Porque se a prevalência da oferta de eletricidade continuasse baseada na energia Térmica (Diesel), como me lembrava ser, de pouco serviria tudo o resto, pois os carros elétricos postos a circular na ilha, bem como a iluminação pública, continuariam a depender de uma energia muito poluente.

Logo que consegui internet no telemóvel, acedi aos dados publicados na EEM e por grande tristeza minha, verifico que não houve absolutamente nenhuma alteração no mix de produção, nem nas emissões de CO2 relativamente às médias dos últimos anos. É de facto um pouco dececionante, mas também é certo que o projeto é novo e temos de dar tempo ao tempo. Entretanto, o que me parece evidente e que não encontrei nos planos e projetos destas entidades, foi a alteração urgente do mix de produção da EEM no Porto Santo, para baixar drasticamente a sua dependência da energia térmica (diesel), que atualmente ronda os 85% de toda a produção energética na ilha e que é responsável pelas principais emissões de CO2.

Outras medidas poderiam ser levadas a cabo, como a ampliação da ciclovia até perto do centro da cidade, que ainda é possível e seguramente iria incentivar o uso desse meio de transporte não poluente. O apoio na aquisição e instalação de painéis solares e fotovoltaicos aos residentes e o alargamento do subsídio de mobilidade ao transporte marítimo para veículos elétricos. Estas e outras medidas, que são mais visíveis e têm efeitos mais imediatos na população e no turismo, poderiam ser levadas a cabo para afirmar o Porto Santo como uma ilha Smart Fossil Free.