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Das Perdas Humanas e das Perdas Materiais

Poeticamente e de forma infeliz, este incêndio de um símbolo cristão está carregado de analogias assustadoras

A Semana Santa tem sido de difícil passagem este ano.Primeiro, dia 15, segunda-feira santa, o mundo assiste incrédulo ao incêndio de um dos maiores e mais famosos monumentos dedicados à fé cristã, a Catedral de Notre Dame, cuja destruição parcial, independentemente de orientações religiosas, constitui uma verdadeira perda para toda a comunidade europeia. Notre Dame é, na verdade, um elo de ligação ao passado histórico e cultural europeu, período em que, apesar das incontáveis guerras que se criavam entre países vizinhos, parece termos sido mais unidos, em certos aspetos, do que atualmente enquanto União Europeia.

Poeticamente e de forma infeliz, este incêndio de um símbolo cristão está carregado de analogias assustadoras acerca de alguns fenómenos que vão ocorrendo um pouco por todo o mundo em relação à fé de Cristo, em países como Inglaterra e Suécia por exemplo, problemas estes por vezes ignorados por políticos que confundem progressismo com desrespeito pela cultura e normatividade.

Posteriormente no dia 17, quarta-feira santa, a Madeira parou. Um autocarro caiu de uma ribanceira por motivos ainda não determinados e acabou matando 29 pessoas de nacionalidade alemã e ferindo 27. Catástrofe que deu razão para a mobilização total do sistema de urgência madeirense, além da ativação do necrotério por baixo do aeroporto. Uma verdadeira desgraça que, de facto, demonstrou a nossa empatia para com as vítimas estrangeiras, sentimento esse que parece começar a desaparecer por entre os cinismos da sociedade moderna. Em relação a esta desgraça só há a comentar a rapidez e a eficácia dos serviços de urgência na sua resposta, que realmente estão de parabéns, e o atentado moral cometido pelo canal regional televisivo (RTP Madeira) que, ao invés de realizar a reportagem acerca desta catástrofe, prosseguiu tranquilamente com a transmissão de programas já agendados como se nada se passasse, contrariando a lógica dos canais nacionais.

Assim, enquanto ateu/agnóstico, desejo uma feliz Páscoa e que o tempo passado em família e, se for o caso, em religião, sirva para ajudar o processo de cicatrização destas feridas tão recentes que podem ter afetado uma vasto conjunto de pessoas, sejam elas os cristãos ou amantes da cultura que perderam a Catedral de Notre Dame, sejam elas os alemães e os portugueses que perderam familiares ou ficaram feridos na catástrofe do autocarro de quarta-feira, sejam eles todos nós que perdemos uma parte de nós próprios nestes dias.