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Das pandemias: o que diz a História (política) (2)

Quando estiver sustida (resolvida?) na sua dimensão imediata a questão da saúde pública que nos assola, o que depois virá será severo e duradouro.

A emergência das questões económico-financeiras é evidente, até porque se sentem de imediato, mas não podem fazer esquecer o demais. A este respeito, apesar de apenas se poder conjecturar, parece inevitável que aí também virá uma crise política no espaço euro-atlântico e mediterrânico. Ver-se-á se mais ou menos aguda e se colocará em causa a própria autoridade do(s) Estado(s).

Para fazer frente (sabendo tirar partido de) tamanha disrupção, será imperioso encontrar soluções sustentadas, tão construtivas, quanto equilibradas. Com uma certeza: serão complexas e poderão ter de ser inovadoras. Não tenhamos dúvida: será mais fácil encontrar resposta para o controlo viral.

Desde o séc. XIX - do liberalismo, democracia e globalização - que nos países ocidentais nunca foi fácil ultrapassar crises agudas. O seu combate e resolução, obrigando a um doloroso esforço social colectivo, mas também a uma (forte) intervenção do Estado, colocou quase sempre em causa a preservação de valores e direitos tidos por inalienáveis e, em termos gerais, a manutenção da Liberdade.

Três exemplos diversos: o direito à vida (em causa se outros, por exemplo num hospital, tiverem de optar entre quem salvar), o direito à informação (em causa se limitado por qualquer tipo de coação ou restrição no acesso), enfim, o exercício livre da cidadania, desde a liberdade de reunião à de expressão.

Pior: se olharmos a História (europeia ou portuguesa), verificamos que depois de crises eventualmente análogas, as gerações que as viveram (ou as seguintes) tiveram de lidar com uma forte e constante instabilidade social. No limite, com conflitos armados. As guerras mundiais são apenas dois exemplos extremos.

Foi assim desde o fim das Guerras Napoleónicas (1815), que deu início à crise de transição entre eras históricas e que apesar de ter inaugurado no espaço euro-atlântico um clima de paz nunca antes vivido, nem depois repetido (100 anos, até 1914), não evitou conflitos localizados, com guerras em vários pontos do Sul da Europa, de Portugal (duas guerras civis) até à Grécia e ao que hoje é a Turquia. Para nem falar do que sucedeu na ibero-américa.

A 1ª Guerra (1914-18) e a gripe pneumónica, com aquilo que provocaram, associadas à incapacidade política para fazer face aos novos problemas sociais emergentes, contando com uma sempre sedenta Banca, não só deram o golpe final na autoridade dos Estados demoliberais e nos sistemas parlamentares, como abriram caminho e promoveram a fácil (e facilmente aceite) ascensão do autoritarismo e do fascismo.

Foi uma realidade comum a todo o centro/sul da Europa e da América, onde gradualmente, em duas décadas, se colocou ponto final em arquitecturas estatais disfuncionais, incapazes de se sustentar. E o pior é que uma parte considerável da exaurida sociedade e da comunicação social aplaudiu.

O vocábulo ‘guerra’ talvez seja, neste momento, uma hipérbole desnecessária (e perigosa, por razões que aqui não cabem, pois mantemos comodidades que numa guerra tradicional seriam impensáveis), mas se as consequências das guerras mundiais nos ajudam a discernir, então olhemos para as respostas substantivas (mas diversas) que a Europa deu a ambas. Facilmente se perceberá qual o caminho a traçar.

Portugal e, em particular, a Madeira, esta na sua luta autonómica, também conviveram com tais repercussões. As respostas que então se deram poderão ajudar-nos a perceber e a definir muita coisa: tanto a respeito daquilo que aí poderá vir, como sobre aquilo que não será conveniente permitir que emerja ou persista. Mas esta já é outra História.

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