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Cuidar e trabalhar: tempo de conciliar

Li neste jornal, na sua edição de 12 de Julho, que vivem actualmente no Funchal 278 idosos sozinhos e a contarem com o apoio da Segurança Social. Não dizia qual o número de idosos a viver sozinhos e sem apoio da Segurança Social nem o número de idosos a viver em famílias constituídas só por idosos. Estas são realidades que são importantes conhecer para que lhes seja dada a atenção devida nas propostas políticas que estão a ser apresentadas para o futuro próximo.

O envelhecimento da população está associado não só a indivíduos viverem mais anos, mas também a estarem durante mais anos dependentes da ajuda de terceiros para as suas tarefas diárias. Como dizia um vizinho meu, quando confrontado com outro vizinho que afirmava “as pessoas são duas vezes bebés... quando nascem e no final da vida”:” Oh vizinho não queira comparar o trabalho que se tem com um bebé, com o que se tem com uma pessoa idosa, pois neste último caso o trabalho é muito maior”. Sabendo do que falava pois tem filhos e cuidou/ cuida de parentes idosos. Como sociedade, temos de nos organizar para conseguirmos satisfazer o trabalho e custos acrescidos que uma população idosa acarreta.

Com o envelhecimento vamos ter cada vez mais famílias em que os únicos elementos que não estão no mercado do trabalho são os idosos. Para estas famílias é preciso que seja revista a lei laboral de modo a enquadrar as suas necessidades de conciliar o trabalho com a vida familiar, isto se, como sociedade, acharmos que é importante que os idosos permaneçam no seio familiar.

Procurando na internet encontrei os direitos dos Pais trabalhadores, os dos Avós trabalhadores mas não encontrei os direitos dos filhos ou dos netos cuidadores e trabalhadores. Será que ao dever de um filho acompanhar o seu Pai ou Mãe a um médico ou à urgência do hospital não deverá corresponder o direito de o poder fazer sem se preocupar com possíveis problemas no local de trabalho?

Contaram-me o sucedido com uma trabalhadora que faltou ao trabalho porque teve que acompanhar o Pai às urgências e o Patrão lhe disse: “Desta vez passa... mas que não se repita!”. Será que da próxima vez esta trabalhadora terá de deixar o Pai abandonado nas urgências com um papel com número de telemóvel para telefonarem quando for necessário?

Acho que é chegada a altura de olharmos para os direitos do Pais e verificarmos quais os que devem ser alargados aos familiares que cuidam dos idosos ou de adultos dependentes. É muito importante e urgente resolver o caso limite dos cuidadores que não têm rendimentos, mas não deixa de ser urgente resolver os problemas dos cuidadores que trabalham, para que estes não se vejam impelidos a ter de tomar decisões que os prejudicam não só na sua vida laboral como também prejudicam os idosos ou dependentes que cuidam.