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Contratempos do progresso

Cada dificuldade significou uma oportunidade de avanço, uma conquista, uma afirmação na sua construção

A evolução está, regra geral, associada a momentos de superação face aos desafios que se colocam no caminho que percorremos. Assim é nas nossas vidas, na sociedade e, também, na política.

Estamos habituados a viver intensamente o dia-a-dia, não conseguindo, muitas vezes, a distância necessária para uma apreciação menos envolvida, imparcial ou mesmo desprendida do ambiente que nos rodeia.

O tempo permite-nos o amadurecimento dessa leitura e com ele a história faz-se mais rica e melhor estruturada.

Esta circunstância não invalida que se reflita sobre os desafios atuais visando decisões imediatas que nos orientem melhor, conforme a consciência do momento e a visão de futuro que temos.

O processo autonómico é um bom exemplo. Cada dificuldade significou uma oportunidade de avanço, uma conquista, uma afirmação na sua construção.

A autonomia não representa um processo acabado e, a prová-lo, verificamos um conjunto de evidências que manifesta e reclama uma intervenção dedicada e intencionada.

O continuado bloqueio do Governo Central à Região, a falta de compromisso e de palavra do Primeiro Ministro em relação aos dossiers da Madeira e do Porto Santo, a permanente contradição de posições dos governantes nacionais, os frequentes desvios face ao acordado, o recurso à chantagem para resolver alguns dos problemas, a exploração da Região com o negócio dos juros da dívida pública, a negação da solidariedade nacional, a recusa no auxílio às vítimas dos incêndios e o desrespeito à legislação em vigor são, por si só, algumas dessas evidências de que a nossa autonomia precisa de mais e de melhor, o suficiente para sermos donos do nosso destino.

Complementarmente, a nova vaga de ataque da Comissão Europeia ao Centro Internacional de Negócios da Madeira revela a fragilidade em que nos encontramos face a outras tantas praças internacionais cujo enquadramento diverge do nosso, apenas, porque dispõem de uma autonomia diferente, mais qualificada, mais evoluída e capaz de permitir a existência de sistemas fiscais próprios, ao contrário do nosso regime apoiado numa lógica de Auxílios de Estado que nos faz, fácil e permanentemente, reféns de qualquer má intenção, seja ela motivada por portugueses inconscientes ou pelas referidas praças concorrentes.

Todos estes contratempos significam impulsos de motivação para a concretização das pretensões regionais na afirmação da essência da nossa autonomia.

A par destes, as intromissões nacionais no quotidiano regional corporizam ameaças a combater, denunciar e rejeitar numa luta democrática que assume contornos de desrespeito político por parte dos madeirenses vendidos e rendidos à sábia maneira de dominar que alimenta um poder nacional que nunca foi legitimado pelo voto do povo.

Este conjunto de dificuldades de hoje representa um verdadeiro desafio, uma importante oportunidade para conquistarmos a autonomia a que temos direito e é, também, uma evidência que o nosso futuro apenas depende de nós.