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Competir para evoluir

Ter sucesso sem opositores ou com opositores muito fragilizados seja no desporto, na escola, na política, nas empresas ... pode alimentar muitos egos ou encher alguns cofres, mas a médio e longo prazo pode ser promotor de facilitismo, de criação de uma zona de conforto que inibe a inovação e a capacidade de adaptação a um mundo em constante e acelerada mudança. No fundo pode constituir-se como o primeiro passo para se percam vantagens competitivas e capacidade de competir ao mais alto nível.

Obviamente que muitas vezes não temos culpa que os outros se auto fragilizem, por exemplo, com opções erradas, com receio de inovar, com uma visão centrada “no seu umbigo” ou mesmo consumindo recursos e capacidades com “questiúnculas” e guerrinhas internas de “alecrim e manjerona”. Contudo, muitas vezes a fragilização tem origem externa, não através da qualidade dos opositores, mas sim através do abuso de posições dominantes, prepotência, compadrio promotor de processos pouco claros quando não mesmo ilegais...

Quem tem medo da competição honesta, leal e justa dificilmente desenvolve em pleno as suas capacidades e potencialidades. Precisamos (pessoas e organizações) de estímulos relevantes que obriguem a adaptações significativas para que se obtenham transformações duradouras.

Ora a competição é um espaço privilegiado para explorarmos e desenvolvermos os nossos limites, a capacidade de superação, a resiliência, a criatividade, a capacidade de adaptação e montagem de estratégias... Por isso dar-lhe uma conotação predominantemente negativa, não só é errado, como pode ser indicador de falta de visão e capacidade de compreender o mundo de hoje.

Infelizmente um dos sectores onde a competição, por vezes (demasiadas vezes), não é muito bem vista, é ao nível do sistema educativo.

As solicitações que implicam adversários/jogo/competição são muitas vezes banidas da sala de aula e encaradas como fonte de excitação, descontrolo, má educação...Parece que “a ocasião faz o ladrão”... É natural que, nas situações em que existe uma elevada estimulação e empenhamento porque os alunos se envolvem, vibram, trabalham nos seus limites, se corra, por vezes, o risco de resvalar para situações mais complicadas de gerir... Mas não são os “jogos” que nos tornam agressivos/ descontrolados/... mas, como em qualquer circunstância da nossa vida, a nossa incapacidade de: gerir emoções e conflitos, lidar com o insucesso/sucesso, aprender com os erros, respeitar o adversário e encará-lo como alguém que nos coloca desafios possibilitando-nos evoluir, aprendendo o valor da dignidade humana, etc.

O processo educativo pode ser potenciado com situações de aprendizagem que ajudem os alunos a aproximar-se dos limites, sendo que a competição contextualizada (connosco e/ou com os outros) ajuda a aproximar desses limites (físicos, emocionais, cognitivos, sociais, etc.).

O que deve estar em causa não é ser o melhor/ser o primeiro, mas sim assumir a competição/desafio para ser cada vez melhor, mesmo que “fique em último”... Uma competição não assumida enquanto desafio de superação, mal enquadrada e sem valores leva a que existam alunos que escondem dos colegas informações e conhecimentos que são importantes (muitas vezes incentivados pelos encarregados de educação), que jovens universitários escondam livros na biblioteca e arranquem folhas de revistas para que os colegas tenham mais dificuldade em estudar, que existam escolas que “empurram” os alunos com mais dificuldades para cursos profissionais para não prejudicarem os rankings, etc., etc., etc., etc.

Não nos devemos esquecer que já a sabedoria popular nos ensina que “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”, por isso...

Depois ainda nos queixamos que, por exemplo, o país é pouco produtivo e que há disfuncionalidades que são muito difíceis de identificar e corrigir.

A educação entendida como um meio de desenvolver as capacidades e potencialidades do indivíduo não pode negligenciar e muito menos menosprezar o valor pedagógico da competição.