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Como a motivação associada à boa vontade pode criar projetos de exceção

Tanto o ”C.A.S.A - Centro de Apoio ao Sem Abrigo”, que tem como objetivo o combate à pobreza e exclusão social através da rentabilização dos recursos existentes e do combate ao desperdício alimentar, como a “Mother Earth Portugal”, que tem como objetivo desenvolver uma sociedade bondosa e ativa na proteção e preservação dos ecossistemas existentes no planeta, criando uma consciencialização ecológica, são projetos fundados pelo Mestre Budista Tibetano Pema Wangyal Rinpoché, e já consolidados na sua ação através das representações existentes na Região Autónoma da Madeira. Cada um independente e com propósitos diferentes, ambos têm na sua essência ações que visem o benefício de todos os seres. A motivação associada à boa vontade, é na prática budista de extrema importância, pois quando na sua posse, o potencial de transformar ações em prática espiritual manifesta-se. E foi exatamente esta motivação budista que impeliu o referido Mestre a cumprir o pedido de seu pai, Kyabje Kangyur Rinpoché, que antes de falecer manifestou ao filho a sua vontade de que este continuasse a ajudar os outros, tal como ele o fizera durante toda a sua vida. A importância destas duas associações nos tempos em que vivemos é inquestionável. No caso da primeira, que opera diariamente numa luta desigual, tanto contra a pobreza extrema, como contra a pobreza envergonhada, tentando minimizar os seus devastadores efeitos, pode-se afirmar que a inexistência de organismos com este fim, tornaria ainda mais negra a vida de muitos seres humanos. Trata-se de contribuir para a dignificação do que deveria por obrigação de todos, ser dignificado. A vida humana. No caso da segunda, paulatinamente e na medida das suas possibilidades, vai promovendo palestras de sensibilização em escolas, apontando para a necessidade urgente da preservação do planeta, realizando limpeza de praias e florestas, proporcionando exposições fotográficas alertando para os efeitos nocivos provocados nos vários ecossistemas do planeta por ação do ser humano, entre outras atividades. No entanto, apesar do louvável trabalho desenvolvido pelas organizações aqui referidas, não podemos deixar de refletir quanto às causas que, infelizmente, estão na sua origem e justificam a sua existência. Em primeiro lugar e de forma destacada, temos o antropocentrismo, que se traduz de forma simples, em que tudo o que existe no planeta Terra, nossa casa mãe, é para uso e serviço do ser humano. Isto é, considera que toda a natureza é feita para estar à disposição e serviço do Homem. Esta visão secundariza qualquer existência que não seja humana, não lhe atribuindo a devida importância. Em segundo lugar, temos o modelo de sociedade instalado (pelo antropocentrismo) que teve a sua aurora num capitalismo mercantil e chega aos dias de hoje como um capitalismo selvagem (não no sentido que Karl Marx lhe atribuiu, mas no sentido contemporâneo da expressão), onde a regra é competir, em lugar de se cooperar, e a (des) regulação e supervisão existem formalmente, mas não são eficazes na sua ação. E em terceiro lugar, temos o consumo desenfreado como forma de absorver a produção em modo capitalista selvagem, que resulta da exploração dos recursos do planeta como se fossem infinitos. Esta dramática trilogia, “Antropocentrismo, Capitalismo Selvagem e Produção e Consumo desenfreados”, conduz-nos a todos ao precipício, seja ele no domínio social seja ele no domínio ecológico. Contudo, apesar da situação preocupante em que o planeta se encontra, seja ao nível da justiça social, seja ao nível ecológico, nem tudo está perdido. A educação ambiental aponta para a conscientização ecológica e para a construção de uma nova relação entre o homem e a natureza. Conhecendo melhor a crise ambiental que ameaça a sobrevivência de todas as espécies vivas, inclusive a dos seres humanos, as pessoas provavelmente irão interferir de forma diferente, para melhor, no meio ambiente. Já no que se refere à falta de justiça social, a adoção de uma motivação imbuída de uma boa vontade, esclarecida e comprometida, será com certeza capaz de promover o exercício de uma compaixão genuína, acabando de vez com a hipocrisia das dimensões da piedade e da caridade, que persistem em atuar no domínio do assistencialismo.