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Com esperança...

O tempo passa já há duas semanas, mas os nossos passos aquietaram-se. Nas fugazes saídas as mãos não se cumprimentam e têm de estar permanentemente higienizadas. As distâncias são-nos estranhas e há uma sensação de consentida desconfiança perante o outro semelhante. As extensões corporais pelas quais outrora nos abraçávamos, perderam essa valência que nos faz humanos. Estamos a sentir toda a nossa fragilidade e o desmoronamento impiedoso de toda a nossa vida nos aspectos mais básicos da socialização. São dramas sérios e reais. As famílias e as empresas precisam de liquidez. O “tempo” está suspenso, mas a vida continua, tão simples como a respiração. Precisamos de meios de subsistência para comida e para honrar compromissos. Temos que ter muita resistência mental para permanecermos reféns perante um sequestrador invisível que nos acorrenta sem cordas numa greve involuntária, mas vital para que o derrotemos. A história da humanidade está repleta de quedas e superação. E sei que vamos superar isto colectivamente, apesar das cicatrizes e das baixas dos nossos que se empilham numa Europa desunida.

Como qualquer moeda com as duas faces, há sempre o engenho humano munido dum saca-rolhas de optimismo - por entre ruínas que se amontoam - de contemplar o melhor de nós. Indústrias e saberes que se reorientam para o fabrico de materiais médicos, de protecção, de desenvolvimento de vacinas e a imensa generosidade abnegada de muitos que juntam esforços para a aquisição de equipamentos. Certamente há muitas críticas e necessidade de escrutínio, mas a dimensão planetária de problema não permite alguém estar verdadeiramente preparado para tudo isto. Haverá também o tempo que exigirá muita mudança em imensos aspectos da organização da nossa vida colectiva, local, regional, nacional e europeia, nas variadíssimas áreas legislativa, laboral, educacional, etc. Retenho a imagem do Papa Francisco - na icónica e magnânima Praça do santo da “pedra” sobre a qual a Igreja se edificou - carregando o enorme e pesadíssimo “rochedo” das angústias e ansiedades do presente. A vindoura ressurreição vai levar mais do que três dias, mas virá.

Apesar do pesadelo dos dias dum calendário estranho, e de uma primavera sem fruição, há também reinvenções das nossas vidas familiares e de vizinhança. Estamos todos dentro deste enorme navio. As preocupações mutualizam-se primeiro do que as dívidas.

Por último e porque nada de novo posso agregar para nos sentirmos melhor, apenas apelar para que sigamos escrupulosamente as indicações das autoridades para que fiquemos em casa. Essa é até ao momento a única “vacina” disponível. Façamos por nós e por respeito a todos aqueles que epicamente na linha de combate e com risco acrescido, tratam da saúde, da segurança e que providenciam que o mínimo essencial não nos falte. Ou não fôssemos nós, um povo “estoico e valente”. Havemos logo de calcorrear do “vale à montanha e do mar à serra” bem como aqueles que visitam a nossa formosa e bela terra. Mas é preciso esperar...

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