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Coisas da democracia e não só

Antes de iniciar, deixo só uma nota prévia, ou uma certeza antecipada: este artigo dará nova queixa na CNE. Afinal, Portugal deve ser ainda o único país onde em nome do exercício máximo da democracia, que é a realização de eleições, se teima em suspender essa mesma democracia em período de campanha. Ou seja, calam-se eleitos (pelo menos alguns), proíbe-se o debate de ideias, silencia-se a crítica enquanto exercício democrático e a informação à população enquanto dever supremo de quem exerce um cargo por sufrágio.

Depois, como em todos os regimes imperfeitos, existem os idiotas úteis que alimentam as falhas do sistema e que se servem delas. Portanto, que avance com a queixa o idiota útil que se segue.

Eu, por outro lado, continuarei a exercer o meu direito democrático como eleito, cidadão e um homem livre. E este direito é também o de denunciar a prática política que não se respeita e que, sobretudo, não respeita a população, as suas prioridades e as suas necessidades.

Na semana que passou, a Assembleia Municipal de Santa Cruz aprovou 5,2 milhões para investimento. Aprovou porque sente e sabe que esses mesmos investimentos, que abrangem áreas como as acessibilidades, a recuperação de redes de distribuição de água, e a melhoria dos nossos serviços de recolha de resíduos são não só prioridades, como necessidades há muito esquecidas por quem tradicionalmente governou, durante mais de trinta anos, o Município de Santa Cruz.

Inspirados pelo momento eleitoral e guiados por nada mais que do a sua agenda política os partidos tradicionais optaram pelo gesto imperfeito de sempre: a crítica sem alternativa, o voto contra sem razão, ou a abstenção sem a coragem, mas também como exemplo último de quem se está realmente a marimbar para o povo e apenas fixado nos próximos combates eleitorais.

O PSD demasiado concentrado na hipótese de perder o lugar que julga seu por direito e onde se quer manter. O PS a pensar que o lugar já é seu e que só falta esse pró-forma chato das eleições. O CDS que quer chegar ao lugar não importa pela mão de quem, desde que chegue lá.

Enquanto isso, a vida cá fora não pára, as pessoas continuam a ter as suas necessidades, os cargos políticos existem para as satisfazer. O resto, esta espécie de suspensão da realidade, há-de passar, na certeza de que o povo será, como sempre, soberano e dará a resposta na hora certa.