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As lições do caso Rafael Macedo

Conheço o meu colega Rafael Macedo e acompanho o seu percurso profissional. Troquei com outros colegas inúmeras impressões sobre o seu entusiástico trabalho. Adicionalmente, conheço muito bem o SESARAM, entidade aliás à qual pertenço, para desencanto do establishment.

Participo na Comissão de Inquérito que avalia todo este processo. Em 2014 trouxe este assunto à Assembleia para espanto do “Jardinismo”. Em 2016, propus uma inquirição, entretanto recusada com os renovados 24 votos da maioria.

Rafael Macedo fez 3 tipos de declarações:

1 - A defesa entusiástica da Unidade de Medicina Nuclear que criou, justificando o que fez e lamentando o que queria fazer (e não lhe deixaram fazer).

2 - Avaliou as incapacidades do SESARAM, as mesmas que todos sentimos na pele, como seja o desespero da espera para exames, consultas e cirurgias. Ilustrou as constantes inversões de estratégias tomadas pelas 6 administrações dos últimos 9 anos. Referiu perseguições e assédios, tudo aquilo que os profissionais bem conhecem.

3 - Acusou de negligência Serviços e profissionais específicos. Elencou polémicas sem concretizar as causas. Para aos mais distraídos, ele instruiu, julgou e sentenciou os processos, esquecendo o direito constitucional à defesa e ao recurso dos envolvidos.

As declarações na TVI e na Assembleia tiveram um impacto profundo na população. Quase ninguém ficou alheado. Na Quinta Vigia tocaram todas as campainhas. Consta que os mordomos acordaram o Senhorio e este, indisposto, deu um murro na mesa e mobilizou a corte!

O SESARAM tirou da gaveta o já muito gasto e velhinho Manual para “lidar com os incómodos” e “esfolou” o médico dissidente. Acima de tudo, avisou os restantes 5000 colaboradores: se desviaram-se da conduta expectável da administração, os níveis de ansiedade e tensão arterial podem aumentar súbita e inexplicavelmente.

O povo não se deu ao trabalho de pegar num bisturi e dissecar os 3 tipos de declarações. As entusiásticas, as verdadeiras e as especulativas. Assim surgiram as avaliações “três em um” e muitos tomaram partido, em grande maioria, solidários com Rafael Macedo. Ou tudo ou nada! E assim compromete-se uma análise séria disto tudo.

Confesso que fiquei com uma dúvida importante, a de saber se o meu colega nuclearista apercebeu-se de ter violado o código deontológico que jurou defender?

As inquirições têm sido úteis apesar da inflexibilidade da maioria laranja em só permitir as inquirições estritamente relacionadas com a Medicina Nuclear, de modo que não será possível aprofundar da razoabilidade das afirmações mais polémicas de Rafael Macedo.

Aqui reside a necessidade da nova Inquirição imposta pelo CDS sobre as listas de espera e o acesso à saúde na Madeira. Apesar de todas as reticências do senhor Presidente da Assembleia, a inquirição avançará e espera-se que não venha a ser boicotada ou limadas as arestas mais anguladas.

Esta polémica tem, apesar de tudo e de todos os danos, uma virtude: os madeirenses perceberam agora que têm nas mãos o futuro do Serviço Regional da Saúde. E no dia 22 de setembro têm a última palavra.