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A reconciliação

Vinha, literalmente, cego e louco encosta abaixo! Livre dos compromissos Olímpicos, podia finalmente, dar largas à minha veia mais radical. Foi depois daquela curva cega. O salto nem era grande, mas tinha as suas manhas. E provavelmente distraí-me com o público que assistia...

Durante um mês, usei e abusei do serviço regional de saúde. Fizeram daquela fractura da crista ilíaca algo, desagradável, é certo mas, ultrapassável. Até que certo dia, um médico meu amigo, qual Jesus Cristo, disse-me: “Levanta-te e anda!” E lá saí do hospital sem as muletas.

As mazelas físicas rapidamente desapareceram. Mas não as mentais. Assim, durante quase três anos, olhei pesarosamente para aquela maravilha da técnica, que é a bicicleta de todo o terreno, sem coragem para voltar a sentir a adrenalina e o privilégio de percorrer os trilhos da nossa ilha.

Este Natal, como já vem sendo tradição, um grupo de amigos convidou-me a participar no “Enduro das Lapinhas”, um passeio pelos trilhos da Calheta que termina na Ponta do Pargo. Embora ainda receoso, lá fui. E se ao princípio, ainda me sentia “amarrado”, ao longo dessa maravilhosa tarde, fui-me soltando, desfrutando cada vez mais do prazer que é andar de bicicleta nas nossas serras. O trabalho feito pelos amantes desta modalidade na construção e manutenção dos trilhos, reconciliou-me com as duas rodas. Trilhos técnicos, é certo, mas com secções absolutamente fantásticas, fluídas e sempre com aquele pano de fundo, que é a paisagem que a Madeira oferece.

Não creio que venha a fazer mais provas de BTT. A adrenalina transforma-me num ser irracional e prefiro gastar esses cartuchos no mar. Mas, com certeza, voltarei a montar uma bicicleta para ercorrer a nossa ilha de lés a lés.

Os trilhos da ilha da Madeira são unanimamente considerados do melhor que se pode encontrar por esse mundo fora. Eles existem porque muitas pessoas contribuíram, por vezes de forma perfeitamente altruísta, para o seu desenvolvimento. E são uma mais valia para a Região e para todos os que nos visitam! No entanto, ainda tanto há por fazer.