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A Festa: a de Hoje e a de Amanhã

Promover a coesão territorial da nossa Região é um dos desafios da década que enfrentamos

A Madeira tem duas épocas tradicionais que dizem muito a todos os madeirenses: no Verão os arraiais e no Inverno “A Festa” - mas entre ambas existe uma diferença significativa: é que se os arraiais são marcados pela grande mobilização que leva os madeirenses aos diferentes concelhos, a Festa é sobretudo marcada pelo ambiente familiar local daqueles que regressam para assinalá-la. É aqui que a Festa e a política se confundem: o que será da Festa daqui a dez, vinte, ou trinta anos?

A Festa madeirense é especial, porque mais do que um fenómeno regional, é um fenómeno local, de cada um dos concelhos, das freguesias e dos sítios madeirenses. Em cada casa a Festa é vivida de maneira diferente - e se assim é, é porque nesses locais ainda há gente que mantém as suas tradições. Ainda, porque não sabemos até quando assim será.

Os fenómenos da emigração que marcaram ciclicamente a Região, o último deles como resultado de uma política económica regional desastrosa e devastadora, associados à ausência total de verdadeiras políticas promotoras da coesão e desenvolvimento territorial, colocam em causa todo o modelo social e cultural em que assenta a nossa vida colectiva e as nossas tradições.

Em 2016, confrontados com a opção de votar favoravelmente a criação de um diferencial fiscal para a zona Norte da Região, o PPD/PSD votou contra. Em 2018, ficámos a saber que nem o Verão foi tão bom como costuma ser no Porto Santo e que em 2019 já nem o rali por ali passará. São exemplos de circunstância, mas reveladores da falta de estratégia e de visão que vai marcando as opções da política regional.

E o que podemos fazer para inverter a situação actual? Em primeiro lugar, ouvir as pessoas que lá vivem e conhecer os seus problemas. Não basta dizer que se têm deputados de todos os concelhos; é preciso que estes oiçam, representem e defendam as suas gentes. Um deputado que vota contra a presença da EMIR na Costa Norte não representa o Porto Moniz; na melhor das hipóteses representa-se a si mesmo. É com o objectivo de fazer diferente que em 2018 o PS realizou Jornadas Parlamentares no Porto Santo e em Santana; que a JS esteve em São Vicente e no Porto Moniz, no seu Roteiro da Coesão Territorial; e que o nosso candidato a Presidente do Governo Regional já esteve, entre outros locais, na Ribeira Brava, na Ponta do Sol, na Calheta, em São Vicente e no Porto Santo, a ouvir aqueles que sofrem as consequências da “emigração” que acontece para dentro e fora da Região.

Promover a coesão territorial da nossa Região é um dos desafios da década que enfrentamos. Há bons exemplos de políticas de fixação local implementadas por autarquias como a do Porto Moniz - mas é preciso mais e isso só será possível quando o Governo Regional deixar de olhar para a Região apenas e só a partir do Funchal. Que potencialidades existem em cada um dos nossos concelhos? Que modelo económico queremos? Como é que fixamos as gentes de cada local? Que sociedade vamos construir e deixar aos outros? Essas perguntas não se respondem com sondagens de 111.000 euros encomendadas pelo Governo Regional a empresas do Continente; respondem-se conversando com as pessoas, os autarcas, com aqueles que conhecem efectivamente a realidade local que enfrentam diariamente.

A Festa é o tempo da família, dos emigrantes que nos visitam, dos que estão longe e regressam uma vez por ano para estarem com os seus, no seu lugar de sempre. As escolhas que temos pela frente também são sobre a Festa que queremos: porque eu adoro o Natal do Mercado dos Lavradores, mas gosto ainda mais dos bolos de São Jorge que ainda existem. Ainda.