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A Cultura

Há poucos dias, o Coro de Câmara da Madeira produziu quatro concertos da Petite Messe Solennelle, de Rossini, na sua versão próxima do original: dois pianos, um harmónio, quatro solistas e coro. Para além da exigência técnica e musical da peça que levou a ensaiar cerca de três meses, três a quatro vezes por semana, da complexidade logística, pelo facto dos concertos se realizarem no Funchal, na Calheta e no Porto Santo, houve um factor determinante: o financiamento.

A cultura, as manifestações culturais de qualquer tipo, dificilmente são viáveis com as receitas que conseguem obter. Na maior parte das vezes, quanto mais erudita é a acção, menos público adere. Outro factor é igualmente importante: o público da Madeira está habituado a ter quase tudo de borla, por convite ou a preços irrisórios.

Outra condicionante importante é a dimensão do mercado. Vivemos numa ilha. Somos cerca de 260.000 habitantes. Se utilizarmos rácios internacionais (ou, mesmo, nacionais) facilmente verificamos que, estatisticamente, o número de pessoas que habitualmente procura os espectáculos do género do que o Coro de Câmara da Madeira acaba de produzir, tendo em atenção o número de habitantes, não é suficiente para gerar receitas suficientes.

Por outro lado, todos os cidadãos, habitem onde habitarem, têm direito à cultura, à saúde, à educação, a uma habitação digna. Assim sendo, para que esse acesso seja garantido, é necessário a utilização de dinheiros públicos, obtidos através de impostos, e de mecenas que apoiem essas manifestações culturais.

Foi o que aconteceu no caso em apreço. Felizmente as autoridades regionais, Governo Regional, Câmaras Municipais, tiveram a sensibilidade para apoiar a realização dos eventos. Empresas privadas e personalidades igualmente contribuíram, de um modo significativo, para a sua concretização.

Viagens, alimentação e remuneração dos solistas convidados, transportes, aluguer de salas e de instrumentos, remuneração de afinador dos instrumentos, som, luz, cenário, aquisição de partituras, licenças de espectáculo, seguros diversos, alimentação dos coralistas quando em digressão, remuneração dos instrumentistas (pianistas e organista), remuneração da maestrina do coro. Tudo isto se traduz em avultada verba que seria impossível a um coro amador obter, não fossem os apoios conseguidos.

Por tudo isto, bem-haja quem, compreendendo a necessidade de produzir acontecimentos culturais da qualidade da Petite Messe Solennelle, se disponibiliza a apoiar, tornando-os possíveis para a população residente e para os turistas que nos visitam. O alimento do espírito é tão importante como o alimento do corpo.