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A culpa é de Lisboa?...

É tempo de balanço. No início do mandato deste Governo liderado por Miguel Albuquerque haviam elevadas expectativas quanto a uma possível nova dinâmica de governação. Passos Coelho era Primeiro Ministro e antevia-se um bom entendimento com Lisboa no sentido de se ultrapassar vários problemas aos quais precisávamos do acordo do Governo da República. Aliás, tinha sido este o motivo para muitos o apoiarem. Mas não demorou muito para que as expectativas fossem defraudadas.

Os transportes são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer região. Havia que arranjar uma solução para os transportes aéreos. Mas, em vez de um verdadeiro modelo de mobilidade, a Madeira resumiu a sua proposta à definição dum subsídio com co-participação do orçamento nacional mal calculado. Foi desastroso ver o partido que governa não perceber o significado de “obrigação de serviço público” no léxico destas questões e procurar ridicularizar o Presidente da TAP aquando da audiência na Assembleia Legislativa Regional sobre este assunto. A instigação ao ódio não resolve problemas. Postura firme é desejada, mas com a argumentação certa para a conquista dos nossos direitos.

Lastimável foi a instrumentalização do Parlamento Regional numa tentativa de lavagem de opinião pública através de comissões de inquérito. Indagava-se o que acontecia, ou as conclusões já estavam tomadas e apenas usava-se a assembleia como teatro? Saiu o tiro pela culatra. Neste teatro, o povo fez apostas sobre quem seria o palhaço-mor. Esteve correta a abertura ao público dos trabalhos da Assembleia para que pudessemos acompanhar o trabalho dos deputados, mas a intenção da abertura esteve errada. Curiosamente a maior parte destes deputados do PSD-Madeira são candidatos nas próximas eleições. Merecedores do nosso voto? Veremos se voltam a rasgar propostas de outros partidos em plena sessão. Isto é que vai ser uma democracia...

Instável foi este governo. Em 4 anos, tivemos 3 secretários da saúde e uma remodelação quase completa de um Governo que, na verdade, foi a constituição de um novo governo. Noutro país ou região dava direito à queda do governo. E para que serviu a nova remodelação? Para tachos e tachinhos.

Um bom governante tem a capacidade de ir buscar os melhores para a sua equipa de trabalho a bem da comunidade, independentemente da cor política. Às decisões tomadas somaram-se erros. Curiosamente muitos destes assessores, adjuntos e técnicos especialistas se perpetuaram no Governo.

Ainda assim, o primeiro grande teste à capacidade governativa ocorreu por ocasião dos incêndios há 3 anos. O orgulhosamente só demonstrou o quanto (des)controlado já estávamos. Várias regiões ofereceram ajuda. Uma delas foi Canárias que este ano foi fustigada também por incêndios. Lamentavelmente, não vi agora nenhuma manifestação de solidariedade da nossa parte.

A frase que mais marcou este mandato foi – “A culpa é de Lisboa!”. O partido que mais defendeu a autonomia durante 40 anos agora só pede responsabilidades a Lisboa? Autonomia é mais do que uma bandeira. Para sermos autonómicos temos de ser responsáveis na governação com propostas concretas. E não podemos ser despesistas e irresponsáveis na gestão do dinheiro público.

Afinal, como andam as contas regionais? Seremos surpreendidos como ocorreu na Câmara Municipal do Funchal com a descoberta de 101 milhões de euros de dívida? Num Governo é fácil ter dívidas de vários mil milhões de euros. Haverão surpresas? Daqui a 2 anos, somos chamados a pagar vários empréstimos. Arriscamo-nos a um novo plano de ajustamento financeiro? Aguentamos mais uma sobretaxa no ordenado? Quem pode deitar a mão à Madeira? Costa? E como vamos lá? Gritando? Incentivando ódio?

Costa é um vilão? Mas, Costa esteve presente por altura dos incêndios. Não reforçou as verbas necessárias para a Madeira para superar o impacto dos incêndios? Não mandou meios de combate aéreo aos incêndios, contrariando o Governo Regional que afirmava não ser possível estes meios na Região? Não concedeu os avais necessários para os quase mil milhões de euros de dívida que o Governo Regional contraiu recentemente?

Agora que a Madeira está toda “furada” até se inventam falsos túneis. Mas que obra é aquela que estão a fazer na Ribeira de João Gomes? É o estilo das obras nas ribeiras. Não existiam outras soluções para aumentar a segurança com menor impacto no ambiente? Vivemos da nossa beleza natural. Ninguém vem para a Madeira ver cimento. E ninguém pensa no perigo da proliferação de mosquitos com a quantidade de pneus que lá colocaram? Onde está a Saúde Pública?

Que irresponsabilidade é esta na área do ambiente. Pegou moda aplicar glicosfato nas serras da Madeira e nas Desertas. Esquecem-se do impacto deste produto no ecosistema. E as implicações na saúde pública? A cabra do Bugio foi extinta e ninguém assume responsabilidade. E o abate a tiro indiscriminado das cabras nas Desertas? Ainda vamos a tempo de evitar este extermínio. Onde está a nossa responsabilidade como humanos na preservação das espécies?

Que dizer do dinheiro investido nos 600 anos? Experimentem fazer uma auscultação da população sobre o porquê destas comemorações e o que aprenderam com todas as iniciativas promovidas.

Onde estão as verdadeiras políticas de inclusão que permitem às pessoas sair do estado de pobreza e serem autónomas? Nunca como agora se instrumentalizou a Segurança Social. A pobreza diminuiu? Decididamente os nossos governantes não andam na rua.

Isto para não falar nas trapalhadas na saúde, nos portos, do concurso do ferry e de tantas outras “ocorrências” resultantes da falta de preparação e incompetência.

Existe uma frase de sabedoria popular que diz “Se queres conhecer o verdadeiro carácter de uma pessoa, dá-lhe poder”. Que o digam todos aqueles que foram e são vítimas de perseguição profissional durante todo este tempo.

E que dizer duma pessoa que não esteve presente ao lado do seu povo aquando do acidente de autocarro com turistas alemães em abril deste ano?

Por fim, devo dizer que compreendo perfeitamente a lista do PSD para a Assembleia da República. No meio de tanto vazio de ideias, afinal Miguel Albuquerque acaba por ser o mais lúcido, precavendo o seu futuro.