Análise

Uma nova centralidade política

As eleições regionais estão ao virar da esquina e a agitação em torno da lista de candidatos a deputados é óbvia e cada vez mais turbulenta.

O próximo acto eleitoral vai imprimir uma nova fase no regime autonómico da Madeira, alicerçado desde a sua fundação, em maiorias absolutas do PSD. O partido que é rei e senhor absoluto dos destinos do arquipélago, verberando contra ‘Lisboa’, algumas vezes com razão, na maior parte das vezes para esconder erros grosseiros de governação, terá grandes dificuldades em segurar o resultado de 2015. Por variadíssimas razões já aqui escalpelizadas.

Há muito em jogo nestas eleições. Desde já a mais que provável inexistência de uma maioria absoluta e a necessidade de se encontrar plataformas de entendimento parlamentar ou com coligações pós-eleitorais. À cada vez mais improvável vitória esmagadora de um só partido, juntam-se os cenários onde vai assentar o próximo executivo, não estando excluída a criação de uma ‘geringonça’ regional. António Costa iniciou um novo modelo em 2015 e levou-o até ao fim, contra todos os prognósticos que ditavam a morte imediata do acordo. O secretário-geral do PS teve o mérito de provar que o país pode ser governado com ‘coligações’ de esquerda, pondo fim ao mito de que apenas o PSD e o CDS conseguiam entender-se na governação do país. O modelo funcionou, com atritos aqui e ali, mas ninguém ‘rasgou as vestes’ e todas as sondagens dão uma vitória folgada à ‘esquerda’ portuguesa nas próximas eleições nacionais.

Na Região, na noite de 22 de Setembro, poderá haver um entendimento à esquerda ou à direita. O CDS já disse ao que ia admitindo apenas ‘casamento’ com o PSD. PCP e BE têm o exemplo nacional e poderão, sem grandes dificuldades, anuir num acordo de base parlamentar com os socialistas. O JPP, que não entra nas contas nacionais, pode ter, aqui, um papel determinante em função do número de votos que consiga amealhar, bem como o PAN.

A Assembleia Legislativa pode assumir um papel que nunca lhe coube nos 43 anos de autonomia. Relegada para terceiro plano por Alberto João Jardim, que nunca foi meigo na adjectivação da ‘casa da democracia’, pode tornar-se, na próxima legislatura, no palco central da governação. É, por isso, determinante que os partidos tenham isso em consideração e coloquem nas listas de candidatos personalidades com características negociadoras, mais abertas à nova conjuntura e realidade. Os ‘yes-men’, adeptos da democracia musculada imposta por Jardim, são passado e não trarão valor a uma ALM que corre seriamente o risco de ter um papel catalisador no seu próximo mandato. Haverá coragem de abrir o parlamento à sociedade civil, aos mais capazes ou os partidos vão de novo sucumbir ao clientelismo, ao aparelhismo e à satisfação dos dirigentes que olham em primeiro e último lugar para si mesmos e para os seus?

No tradicional mês de férias os partidos vão andar na rua e os políticos vão desdobrar-se por festas e arraiais, na caça ao voto. Veremos até que ponto conseguirão convencer um eleitorado cada vez mais distante e alérgico a trivialidades e jogadas de marketing político, pouco consentâneas com as reais necessidades das pessoas.

P.S.: Tarde é certo, foi aprovado o diploma que altera o modelo do subsídio de mobilidade. Ao cair do pano da legislatura, os deputados da República deram luz verde ao documento da Assembleia Legislativa da Madeira, que preconiza o pagamento, por parte dos residentes, de apenas 86 euros (estudantes, 65) nas deslocações para o continente. É um passo importante na coesão social e territorial. Saiba, agora, o Estado acautelar a forma de pagamento às companhias aéreas, para que não haja nenhum dissabor até a norma entrar em vigor, em 2020. A easyJet já disse que está a analisar juridicamente as implicações da medida. Uma vez mais cabe ao Estado preservar os interesses do destino Madeira e fomentar a entrada de mais companhias na rota. Quem não pode ficar refém de interesses comerciais são os residentes que, como sabemos, não têm alternativa ao transporte aéreo.