Análise

The show must go on

Passa pela cabeça de alguém responsável que o sector da saúde vai conseguir reunir as condições de tranquilidade recomendáveis enquanto Mário Pereira se mantiver como director clínico do SESARAM? Em toda esta catástrofe em que se transformou a gestão do serviço regional de saúde, será possível acreditar que tudo não passa de uma birra colectiva de directores de serviço contra o ortopedista que separa mais do que une? Terá este governo um grau de alheamento tão elevado que permita este continuo arrastar na lama dos problemas internos do SRS? O governo já perdeu a face nesta batalha. Por mais que Miguel Albuquerque teime em dizer que não vai ceder, o executivo sai muito mal desta fotografia. Negociou o que nunca deveria ter negociado com o CDS e agora mete os pés pelas mãos na trapalhada em que se enfiou e não consegue sair. Uma decisão unilateral pode custar a continuidade do governo. Ambos sabem isso. Se o parceiro de coligação queria lugares de destaque na saúde que lhe fosse disponibilizada a secretaria regional ou a presidência do SESARAM. Mas provavelmente isso não serviria os projectos da personalidade centrista que acabou por assumir a direcção clínica. Naquelas funções a prática clínica privada estar-lhe-ia vedada. O circo montado no Hospital Dr. Nélio Mendonça deveria envergonhar os dois partidos que formam o governo e fazer com que a ‘mão fosse emendada’. Não é decidir ao sabor de corporações ou de médicos insatisfeitos a forçarem um ajuste de contas com o passado, mas encontrar uma plataforma de entendimento, que acabe de vez com a contenda pública, recheada de ameaças e promessas de bloqueio. A falta de liderança na saúde é gritante. Quase sempre se privilegiou o carreirismo partidário à competência técnica e humana dos seus dirigentes. Há muito em jogo nesta disputa cínica e calculista. Há muita política e pouco sentido de servir.

O circo é tão grande que mesmo com os pedidos de demissão da maioria dos directores hospitalares sobre a mesa, o secretário da Saúde insiste em dizer publicamente que mantém a confiança nos pares demissionários. Ridículo este exercício de contorcionismo de Pedro Ramos, para quem Mário Pereira nunca fez parte dos planos.

Enquanto o governo finge que este é apenas e só um ‘caso’ assuntos muito sérios carecerem de atenção: a capacidade formativa dos serviços hospitalares e a eventual perda de idoneidade.

Numa semana em que a eutanásia gera um dos maiores debates na sociedade portuguesa, por cá labora-se no caos e fica-se à margem do tema. O povo finge que acredita que está tudo a ser feito em nome do bem colectivo.