Análise

Só corridos!

A semana foi fértil em memória curta, ingratidão e desfaçatez, formas ‘sui generis’ de afirmação política perante a realidade que os eloquentes não conseguem dominar, perante a irreverência que os mesmos em vão tentam domar, perante a crueldade de números ou de factos cujas as interpretações, por mais absurdas que sejam, tendem a ser toleradas. Quem foi educado para a diversidade e para o pluralismo, mediatiza sem dramas a liberdade de expressão, por mais excêntrica que seja.

Achar que a notícia da extracção ilegal de centenas de toneladas de inertes do leito da Ribeira dos Socorridos ao longo dos últimos anos, atrevimento que potencia o risco de cheias e aumenta a vulnerabilidade todas as infra-estruturas a jusante daquela actividade clandestina, nomeadamente no Parque Empresarial da Zona Oeste é forma declarada do DIÁRIO penalizar o partido no poder não é só um atentado à inteligência dos eleitores madeirenses. É uma ofensa grave à missão do jornalismo, bem como um inacreditável pacto com o crime organizado. Ver gente alegadamente com responsabilidades ambientais a discutir mais o alegado “súbito interesse” jornalístico no caso do que a infracção e suas consequências é lamentável. Honra seja feita ao presidente do Governo que destoando de alguns silêncios cúmplices, meteu o prevaricador no lugar e chamou quem de direito à pedra: “Se é ilegal, (a fiscalização) tem que actuar. Num estado de Direito é assim que as coisas funcionam”.

Num estado de Direito não é tolerável que o não licenciamento faça escola e que um titubeante passado de permissividade sirva desculpa para uma “prática habitual”. Bruno Freitas foi director regional de Turismo. Não acreditamos que tenha fechado os olhos a situações dúbias, mesmo que já viessem de trás ou praticadas por protagonistas com costas largas. Por isso, a a abertura do Savoy Palace em condições questionáveis que vão dar multa, mais do que um caso da polícia da actividades económicas, porventura distraída com afazeres partidários, é também um regresso ao tempo da concorrência desleal. Estranha-se que outros hotéis, restaurantes e detentores de salas de eventos, em princípio com taxas em dia e licenciamento na mão se mantenham comedidos.

Miguel de Sousa, que nunca pediu para assumir qualquer cargo político, mas pediu no início de Janeiro ao líder parlamentar para fazer o discurso no dia da Região, entendeu cavalgar uma onda social-democrata, há muito lançada sem sucesso pelo seu novo herói mas que não passa de uma tentativa infeliz de pressão alta, daqueles que nunca se desfazem, nem rebentam.

É legítimo que não goste de ver notícias no DIÁRIO a seu respeito, sobretudo quando não lhe convém; que se ache a única fonte digna de crédito no PSD-M; e que nos queira acomodados. Não é de agora que sabe que teremos todo o gosto em contrariar a tendência decretada, que não nos cala, nem controla.

Não lhe invejamos o que quer que seja, nem a sorte, nem a fortuna, nem o futuro. Damos notícias, e como já nos devia conhecer minimamente, o que paga pela publicidade não inclui mais do que isso, o serviço que compra e que lhe é devidamente prestado.

Não o entrevistamos por acaso. Não lhe damos um espaço mensal de opinião por ser anunciante. Não o cumprimentamos por medo. Respeitamo-lo por ter méritos inegáveis e contributos para o todo colectivo. Não queira por isso comprometer todo o seu valor ao acenar com uma factura de despesas que não foram feitas por nós, antes decorrem da democracia escrutinada ou do simples facto de ser político. Ser indiferente e mesquinho perante quem tanto diz ter feito pela sua Madeira é que era “inaceitável”.

Há ainda os que nem contas de somar sabem fazer quando olham para um estudo de opinião e os que não se tiram do sofá nesta que é a Região com a segunda taxa mais baixa de trabalho voluntário do País, alheamento que não justifica que os donativos para Moçambique ainda estejam no Porto Santo e que muitas outras benesses não cheguem a quem mais precisa. Não há papel que chegue para tanto egoísmo.