Análise

No caminho certo

Política é, acima de tudo, fazer pontes e procurar entendimentos, em nome do bem-estar da população. Pouco importam as tricas, os jogos e a narrativa quotidiana da luta pelo poder, exageradamente presente na agenda mediática.

A aproximação do Governo Regional ao Governo da República deveria ser não uma excepção à regra, mas uma atitude comum e normal. Ingenuidade? Pragmatismo. A negociação – negada oficialmente pelos socialistas - que se estabeleceu entre as estruturas regionais e nacionais, no âmbito do Orçamento do Estado para 2020, confirma que é possível chegar a bom porto quando o diálogo e o bom senso superam a berraria eleitoral e as derivas político-partidárias. Se é verdade que António Costa precisa de aliados para aprovar o OE2020 na Assembleia da República, não é menos verdade que Miguel Albuquerque necessita de resolver um conjunto de questões pendentes com Lisboa que dizem muito aos madeirenses, e que sozinho nunca o conseguirá fazer.

A disponibilidade de Lisboa ficou espelhada no discurso que o ministro das Finanças trouxe à 30.ª edição das 500 Maiores e Melhores Empresas, da passada quarta-feira, onde confirmou, numa sala repleta de empresários, o alívio dos juros da dívida da Região, que no final do empréstimo vai permitir uma poupança de 100 milhões de euros. Mário Centeno foi ao encontro do que as autoridades regionais há muito reclamavam, com absoluta razão. O financiamento do novo hospital está também assegurado nos moldes propostos pelo governo regional. Justo e equitativo.

Em banho-maria fica, uma vez mais, a revisão do modelo do subsídio de mobilidade, que penaliza os residentes. Quando, à saída do encontro com o primeiro-ministro, em Novembro passado, Miguel Albuquerque falou da criação de um grupo de trabalho para tratar do assunto, percebemos que isso era sinónimo de o empurrar para a frente. Confirma-se, um mês depois, que nada de novo surgiu nesse âmbito. É imprescindível que se regulamente o que há para regulamentar e se operacionalize o novo modelo. Já na questão da linha marítima sabemos que a mesma não vai avançar. Lisboa está apenas disposta a fazer um estudo de mercado, que deverá arrasar as aspirações dos que defendem a ligação durante o ano inteiro. Como referiram todos os intervenientes na audição parlamentar da semana passada, a travessia não é viável economicamente. Deveremos continuar a fazer finca-pé neste dossier? Ou a aposta deve centrar-se exclusivamente na mobilidade aérea? É determinante um estudo actualizado, realizado por especialistas não políticos, sobre que moldes o transporte marítimo de passageiros tem fundadas razões para se realizar.

Se as principais reivindicações da Região forem atendidas em sede de orçamento não há nenhum motivo para que os deputados do PSD-M não viabilizem o documento, mesmo que isso acarrete uma guerra com Rui Rio e com a estrutura nacional do partido. Veremos se o bom senso vai imperar e se as tréguas assegurarão um bom desfecho para a Região. Votos de Bom Natal.