Análise

Idade da pedra

Numa semana em que mundo celebrou 30 anos de queda do muro divisionista, houve quem neste rochedo fizesse questão de optar por regressar à idade da pedra, à era do arremesso fácil, do insulto primário e da conspiração tribal.

Mais do que uma mera escolha pessoal, os que convivem mal com a realidade cruel ou com o futuro que tem tanto de incerto, como de promissor, costumam tentar arrastar terceiros para a lama onde escolheram vegetar ou dar nas vistas. Daí que haja sempre um impacto colectivo dos enganos, dos delírios ou dos caprichos daqueles que neste pedaço de terra - que sendo de todos tem servido mais a uns do que a outros - tentam estar acima da lei e dos restantes, por terem estatuto, dinheiro ou património. Bom proveito lhes faça pois quando há trabalho, mérito e visão não há reparo possível, nem margem de tolerância para a inveja mesquinha.

Coisa bem distinta são as suspeitas de favorecimento, os erros processuais e os “abusos” percepcionados por uma imensa maioria, matérias por nós escrutinadas e partilhadas, mau grado as ameaças, e que hoje são alvo de inquérito pela justiça.

Como há heranças que não queremos perpetuar, recusamos alinhar nas teorias da conspiração que apontam para manobras orquestradas, fantasmas agitados à procura de uma vitimização doentia, quais coitadinhos dos jogos de espelhos que julgam os outros com base no que praticam ou idealizam.

Neste DIÁRIO nunca um administrador ordenou perseguições a quem quer que fosse ou pediu que dele só se dissessem maravilhas. Quem tem jornais para fazer servicinhos desse calibre enganou-se no sector de actividade. Quem está na área da comunicação social para engraxar ou fazer ajustes de contas tem os dias contados. Quem não percebe que o jornalismo é publicar aquilo que importa saber, mesmo que haja quem não queira que se publique, e que tudo o resto é publicidade, então que volte à escola.

O nosso único compromisso é de tentar honrar em cada dia o estatuto editorial e respeitar o pacto com os leitores, dando notícias e servindo os interesses dos madeirenses. Nada mais nos move.

Daí que se lamente a manobra atentatória da liberdade de informação que visa transformar assuntos sérios, como os atentados ambientais, a uma alegada guerra de grupos económicos. Nem para distrair os menos avisados se o argumento com o qual tentam embrulhar a actualidade serve. Só alguém de vistas curtas teme a concorrência.