Análise

Contagem de espingardas

A vida vai agitada nos dois partidos da oposição mais votados nas últimas legislativas regionais. Dentro e fora de portas, com acusações públicas que inflamam as redes sociais, palco predilecto para a destilação de ódios e ajustes de contas. CDS e PS estão no típico processo de contagem de espingardas. Se no CDS a falta fôlego da liderança de Lopes da Fonseca está a ser fustigada por militantes com ambições, no PS a candidatura de Emanuel Câmara à presidência do partido, gerou grande contestação no seio dos que apoiam o actual líder, Carlos Pereira. Suportado pelos históricos, Pereira corre sério risco de ser apeado nas eleições internas marcadas para 19 de Janeiro, caso a facção de apoio a Emanuel Câmara consiga mais votos para o seu candidato. O autarca do Porto Moniz já disse ao que vinha. E foi claro. Só avança para estender a passadeira a Paulo Cafôfo na corrida à presidência do Governo Regional, em 2019. Um estudo de opinião encomendado pelo DIÁRIO e TSF-M revelou que Carlos Pereira é o mais bem colocado para liderar o PS-M e, na sondagem de ontem, surge colado a Miguel Albuquerque, caso as eleições regionais fossem agora. Mas há um dado nesta equação que não pode ser descurado, muito menos subestimado: Paulo Cafôfo tem mais notoriedade que o actual líder socialista e que o próprio presidente do Governo, que surge atrás do autarca do Funchal e de Alberto João Jardim, que durante quatro décadas foi a figura central do regime.

Na luta pelo domínio das máquinas internas o CDS procura recentrar-se. Rui Barreto poderá estar na calha, caso José Manuel Rodrigues o apoie ou, pelo menos, se mantenha neutro. Houve quem apostasse numa aliança de direita para fazer frente a uma de esquerda, à imagem da geringonça. Será esse o caminho? Até agora ninguém se chegou à frente, a não ser o ‘pai’ da ideia, o antigo líder Ricardo Vieira. Dificilmente haverá uma AD pré-eleitoral, após décadas de confronto duro entre PSD e CDS. Aliás viu-se na passada quinta-feira, no Parlamento, em que nível está o relacionamento dos dois partidos. Os deputados centristas abandonaram o Plenário após uma troca azeda de acusações com a bancada laranja.

A vida interna dos partidos diz respeito aos seus militantes, que vão escolher o caminho que querem percorrer e com quem. Se as regras do jogo forem limpas e em linha com os estatutos, apenas se fortalece a democracia. Depois, nas urnas caberá ao povo soberano ratificar ou não as escolhas feitas pelos filiados.