Análise

Albuquerque meteu a Renovação na gaveta

As eleições regionais do próximo ano estão a agitar as águas. Mais do que se pudesse julgar após o anúncio público da entrada de Paulo Cafôfo na corrida. A surpresa da semana chegou pela mão do PSD-M, que com medo do que aí possa vir e com indicadores seguros nas mãos, lançou um apelo ao antigo e eterno líder, entretido nos últimos tempos com a apresentação do seu romance. Quatro anos após a saída conturbada e turbulenta, Miguel Albuquerque mete a ‘renovação’ na gaveta, fecha os olhos ao que escreveu e disse sobre o ex-presidente e - aqui del rei – quere-o de novo na frente do partido, para os embates eleitorais do ano que vem. Em nome de uma necessária vitória nas urnas, que venha Jardim. O que está para trás, fica lá atrás. A conclusão, pragmática, do actual presidente esbarra com tudo o que disse sobre a recta final da governação jardinista e sobre a sua truculenta liderança partidária. As eleições internas de 2014 foram frutuosas em ataques e críticas abertas de parte a parte. Quatro anos após todas as promessas de ruptura com os vícios do passado eis que se ressuscita a figura do fundador, derrotado com estrondo.

O regresso de Jardim suscita muitas leituras e interrogações. A primeira sobre que projecto tem Miguel Albuquerque para a Região ou importa apenas a sua sobrevivência política e o comando da Quinta Vigia? A renovação social-democrata falhou. Já por diversas vezes Paulo Cafôfo, o alvo de todas as preocupações na política regional, afirmou que o antigo presidente sabia fazer melhor as coisas do que o actual. Albuquerque está a dar-lhe razão e a oferecer-lhe um trunfo eleitoral. Quando chegou à presidência do Governo Regional, em 2015, carregava o pesado fardo de devolver a esperança à população, aos milhares de desempregados, às famílias que viviam abaixo do limiar de pobreza, à economia, à saúde. A herança difícil deixada pelo agora desejado Jardim fez mossa: o monumental buraco de mais de seis mil milhões de euros obrigou os madeirenses a pagarem a factura com ‘língua de palmo’, originando a saída de muitos para o estrangeiro. Os efeitos do PAEF ainda se fazem sentir e mesmo com as melhorias introduzidas pelo governo as pessoas não se esquecem facilmente dos tempos mais tormentosos de um passado bem recente. O balanço aos anos de governação da renovação de Albuquerque cabe ao eleitorado fazer, no dia 22 de Setembro, com uma certeza: não haverá uma segunda oportunidade para este PSD causar uma primeira boa impressão. A maior parte da população – onde não entra a pseudo-elite dos cafés bem frequentados da baixa - está cansada da arrogância e dos vícios do poder, alimentados durante os últimos 40 anos.