Análise

60 dias de megafone na mão

Por cá, o Jornal Oficial tem demonstrado que há hábitos que não mudam

Este ano não há férias para a classe política. Estão todos convocados para a mobilização geral que vai percorrer a Região nos próximos 60 dias. Dois meses em campanha, nas festas, nos arraiais, nas praias, à saída das missas. O leitor que não se admire se a seu lado na fila para a espetada encontrar Albuquerque, Cafôfo, Barreto, Paulino ou Edgar para dois minutos de conversa de circunstância. Vai haver momentos espontâneos e outros traçados a régua e esquadro pelas agências de comunicação, que metem figurantes e diálogos absurdos, quase todos ridículos, diga-se em abono da verdade.

Até às 24h do dia 4 de Outubro as máquinas vão andar na rua, no porta-a-porta como gostam de dizer os políticos, a apelarem ao voto.

As ‘Regionais’ vão ser disputadíssimas. O PSD, ancorado à governação, faz por apresentar serviço, por mostrar obra, por estar nas iniciativas e nas inaugurações. Verão adentro que o calendário é exigente e está muita coisa e muitos lugares em jogo. O PS, com o seu candidato a 100% na campanha, tem mais dificuldade em permanecer na ‘crista da onda’ porque não tem obra física para mostrar. Cafôfo, que traz um resultado que ficou aquém das expectativas nas Europeias vai ter de se esforçar mais e de explicar melhor a bondade das suas propostas para a Região. Não basta acenar com o beneplácito e a simpatia do secretário-geral do PS, António Costa. Isso, por si, é pouco valorizado pelos eleitores, educados durante décadas e décadas a olhar de lado para Lisboa e para os governantes do ‘rectângulo’.

O CDS está ainda à procura de um fio condutor que desembarace a ideia propalada pelo seu líder, que fez questão de recordar, num exercício pouco inocente, as semelhanças do seu partido com o PSD. O BE e a CDU têm guião próprio e vão lutar para não perder nenhum deputado na próxima legislatura. Fazer parte de uma solução governativa à esquerda faz parte das probabilidades. Depois há o JPP e os pequenos partidos, que podem eleger um parlamentar.

Entretanto, o processo de elaboração das listas de candidatos não tem revelado nenhuma renovação. Antes pelo contrário. Quase todos os mesmos, para os mesmos lugares. Ou não há sangue novo ou a prática dominadora das máquinas impede que novas caras emerjam.

No continente a transparência e as relações familiares entre governantes e quem faz negócios com o Estado está a marcar a pré-campanha. O ‘familygate’ está a incomodar António Costa na conquista de uma maioria absoluta. Por cá o Jornal Oficial tem demonstrado que há hábitos que não mudam. De concursos de pessoal a renovação de comissões de serviço de gente afecta ao PSD, há de tudo um pouco.

Se em 2015 o PSD ganhou, por uma dúzia votos, a maioria absoluta, este ano todos os cenários indicam que ninguém terá 24 deputados. A batalha pelo poder vai aquecer este Verão e promete luta dura. Que tenha, pelo menos, a virtude de convocar o cidadão à mesa de voto.

P.S. 1 Da coerência e falta dela é do que mais se fala em política. Rui Rio, que tem a casa a arder, veio ao Chão da Lagoa dizer que os madeirenses não iam gostar de ver os comunistas no Governo Regional, pronunciando-se sobre a eventualidade de uma geringonça insular. Já o tinha dito na entrevista que concedeu ao DIÁRIO. O que o líder do PSD, que conhece mal a realidade madeirense, não disse foi que governou a Câmara do Porto com a ajuda da CDU, através do vereador Rui Sá, entre 2001 e 2005...

P.S.2 Táctica política. Miguel Albuquerque recuperou a antiga receita de Jardim e vai liderar a lista de candidatos à Assembleia da República. Colocando-se em primeiro lugar qualquer resultado obtido pelo PSD é da sua inteira e exclusiva responsabilidade. O que aconteceria se, por exemplo, Sérgio Marques fosse o cabeça-de-lista e conseguisse um resultado melhor do que o líder nas regionais?