Análise

42 anos

Ou premeia-se pelo mérito ou nunca chegaremos a bom porto

No próximo domingo, a Autonomia regional celebra o seu 42.º aniversário. De 1976 até hoje houve um caminho percorrido, decisões acertadas, outras erradas e outras ainda (muito) questionáveis. O diagnóstico está feito pelos políticos, pelos sindicados, pelas forças vivas da sociedade madeirense. Mas a Autonomia é um processo dinâmico e evolutivo. E depende sempre dos habitantes da Região dizerem que rumo querem tomar, respeitando apenas a soberania nacional. Há muito a fazer, há muito por resolver. Da saúde à educação, que devem assumir o lugar cimeiro de todas as prioridades governativas das próximas décadas. Nada se compara a 1976, mas existe um longo caminho a percorrer para que sejamos mais instruídos, mais competitivos e tenhamos cuidados de saúde assegurados em todas as vertentes. Temos de apostar nestes dois eixos fundamentais.

A Autonomia vingou e tem feito o seu percurso com grandes dificuldades porque depende do Estado para quase tudo e, no essencial, porque a chave do ‘cofre’ está em Lisboa, tão criticada pelos políticos de cá na retórica propagandística que serve para abafar muita falta de visão e de planeamento. É verdade que foi preciso luta e coragem para conseguirmos evoluir e modernizarmos uma das regiões mais atrasadas da Europa, em 1976, e que não podemos baixar a guarda. Mas é necessário mais rigor, maior determinação, mais respeito e tolerância pela liberdade de expressão, de pensamento, pela democracia. E a qualidade da democracia mede-se pela maturidade democrática. E nessa contabilidade, os direitos pessoais não podem sobrepor-se aos do colectivo.

O percurso autonómico, resgatado em significativa parte por interesses pessoais, de sobrevivência política, de jogos mais ou menos rebuscados, para enganar os incautos, tem de conhecer outra realidade. 42 anos após a fundação da Autonomia não se pode consentir que se façam despachos no jornal oficial a privilegiar este ou aquele ‘amigo’. Ou premeia-se pelo mérito ou nunca chegaremos a bom porto.

Em período pré-eleitoral, em que as máquinas partidárias começam a posicionar-se, sentem-se receios crónicos típicos de uma sociedade ainda domada pelo poder do partido dominante na administração pública.

42 anos de autonomia não foram bastantes para maturar o verdadeiro significado de liberdade. Convinha que todos nós perdêssemos um pouco de tempo a pensar nisto.

Na semana que se iniciou com o sobressalto cívico, quase generalizado, motivado pela troca do busto de Cristiano Ronaldo, do aeroporto, que provocou correntes e petições nas redes sociais (raramente se vê uma atitude semelhante a esses movimentos populares e espontâneos quando em causa estão questões sérias que afectam em concreto a vida das pessoas) e que acabou com a febre dos jogos do Mundial, fomos vivendo como que anestesiados da realidade diária. É sempre assim. O povo gosta, quando começa o Verão de inaugurar a ‘silly season’... Pede mais diversão e menos assuntos para pensar. Compreende-se.