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Portugueses contam transtornos causados pela neve em Paris

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A neve que caiu na região de Paris apanhou de surpresa muitos automobilistas que ficaram parados horas a fio em autoestradas, incluindo alguns portugueses.

A neve que caiu desde terça-feira no norte de França chegou a acumular uma camada de até 30 centímetros na cidade de Chartres e de 12 centímetros em Paris, a maior acumulação desde 1987.

Esta tarde, António Neves, de 44 anos, ainda estava bloqueado na A10, “a dois quilómetros da estação de serviço de Chelles, em direcção a Paris”, onde foi obrigado a encostar há quase um dia: desde esta terça-feira à tarde.

“Do meu lado esquerdo tenho camiões. Isto tem três pistas e nós, os pesados, estamos parados e a ocupar a pista da esquerda e a do meio. A da direita está livre para a passagem dos ligeiros. Desde as 19:00 de ontem que a ‘gendarmerie’ mandou encostar aqui”, descreveu o português.

Embora esteja bem equipado e tenha comida, o camionista lamentou que a Cruz Vermelha, com sandes, água e sumos, só ali tenha passado hoje às 16:30, ou seja “mais de 21 horas depois”.

O camionista contou à Lusa que há “centenas de camiões” que estão parados até à área de serviço e para além dela, acrescentando que o cenário é o mesmo quando olha para o retrovisor: “Espreitando para trás é a perder de vista”.

Para António Neves, que já circulou “em condições piores em que cai muita neve”, a justificação para o bloqueio dos camiões tantas horas seguidas deve ser “uma questão de segurança”, mas, a seu ver, as autoridades “já podiam ter desbloqueado” a situação.

O camionista tem sido acompanhado por telefone pela sua empresa, cujo patrão, Mário Martins, tem quase 80% da sua frota bloqueada devido à neve.

“Temos 80% da frota bloqueada um bocado por todo o lado, nas estradas, na A10, na A6, etc. Ora bem, isto por dia dá-nos um prejuízo de 80 mil euros, mais ou menos. Isto é dramático para qualquer empresa de camiões. Parar um dia ou dois é dramático, mas se durar mais do que isso pode causar grandes problemas e dificuldades, é evidente”, explicou o empresário que tem cerca de 300 camiões.

Houve também quem tivesse levado “oito horas para fazer 22 quilómetros”, como José Trovão e a mulher, que viveram “um caos” na A13, ainda que se tenham acautelado com pneus de neve, uma sandes, um ‘pain au chocolat’ e duas garrafas de água.

“Tenho uma oficina em Coignières. Fechámos a garagem às 18:00, abalei às 18:15, vivo em Le Chesnay, a 22 quilómetros daqui, e cheguei a casa às 2:30 da manhã. Foi horrível. As coisas não foram preparadas. Se tivessem posto sal ou avisado as pessoas para não entrarem nessa autoestrada, isso não tinha acontecido. Foram horas e horas e horas parados”, contou.

O empresário português lamentou a situação e criticou a forma como foi gerida pelas autoridades, apontando que “a polícia e os bombeiros só chegaram a partir da meia-noite” e que houve pessoas que começaram “a abandonar os carros”.

Tratou-se de “um grande episódio de neve, como não havia há 30 anos”, resumiu à Lusa Hermano Sanches Ruivo, vereador-executivo na Câmara Municipal de Paris, que rejeitou a ideia de “caos” e adiantou que dentro da cidade houve, por exemplo, um trabalho prévio de dispersão de sal nos eixos principais.

Além disso, foi fechada “uma série de estruturas, desde cemitérios, instalações desportivas e alguns parques”, pediu-se aos comerciantes para deitarem sal nos passeios e alertou-se os parisienses para redobrarem a vigilância, sobretudo porque “na sexta-feira vai haver um novo episódio de neve”.

Por outro lado, “na esmagadora maioria, as linhas de metro estão a funcionar”, ainda que haja “muito menos autocarros porque cruzam toda a cidade e há pontos mais difíceis, com gelo”.

Paulo Marques, vereador em Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris, também rejeitou um descontrolo por parte das autoridades e afirmou que “os serviços municipais estão a trabalhar há 48 horas” para limpar as artérias mais frequentadas e houve restrições de tráfego para os autocarros e camiões.

“Quando cai mais de dez centímetros de neve em meio dia, é verdade que não temos muito o hábito de ver tanta neve. Mas não é algo novo. Há alertas, previsões e preparação”, declarou.