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Muco que cobre peixes pode ser fonte de novos antibióticos

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O muco que torna os peixes escorregadios pode ser fonte de novos antibióticos eficazes contra bactérias multirresistentes, como a ‘Staphylococcus aureus’, que provoca infeções graves, defendem investigadores num estudo que vai ser apresentado hoje.

A substância viscosa protege os peixes de bactérias, fungos e vírus presentes na água aprisionando os micro-organismos antes que estes consigam penetrar nos tecidos dos peixes e, de acordo com o estudo, que será apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Química, tem também uma composição rica em polissacarídeos (hidratos de carbono que integram estruturas orgânicas) e peptídeos (biomoléculas que agregam aminoácidos) com propriedades antibacterianas conhecidas.

Uma equipa de investigadores das universidades de Oregon e da Califórnia, nos Estados Unidos, liderada por Sandra Loesgen isolou em amostras de muco de peixes, retiradas tanto de espécies de águas profundas como de águas costeiras, 47 estirpes diferentes de bactérias, das quais cinco revelaram propriedades inibidoras da ‘Staphylococcus aureus’, responsável por muitas infeções hospitalares, e três manifestaram-se como inibidoras do fungo ‘Candida albicans’, que provoca doenças como a candidíase.

Sandra Loesgen, citada num comunicado da Sociedade Americana de Química, adianta que uma bactéria encontrada no muco de uma espécie da família dos pargos revelou atividade contra células cancerígenas do cólon e sublinha o potencial, ainda pouco estudado, dos micro-organismos e substâncias naturalmente presentes nos animais marinhos face às descobertas que têm vindo a ser feitas sobre a importância das bactérias benéficas e protetoras presentes no organismo humano, especialmente no chamado ‘microbioma’ gastrointestinal.

No trabalho apresentado hoje, os investigadores estudaram o muco de peixes jovens, capturados na costa do sul da Califórnia, por terem o sistema imunitário menos desenvolvidos que o dos adultos e por estarem revestidos por uma camada mais espessa da substância.

A equipa de investigadores centrou a pesquisa na busca de substâncias ativas que poderão ser fonte de novos antibióticos para combater patologias humanas, mas, indicou Sandra Loesgen, está também a estudar outras aplicações para as descobertas, como por exemplo na redução do uso de antibióticos genéricos na indústria da aquacultura e na criação de substâncias ativas especificamente dirigidas aos agentes patogénicos associados a espécies especificas de peixes.

Os investigadores ressalvam, no entanto, que há ainda um vasto trabalho de base a ser feito, como por exemplo a identificação das bactérias e compostos orgânicos que fazem naturalmente parte da camada protetora dos peixes e aqueles que poderão fazer parte do meio ambiente e estarem presentes nos peixes mas sem fazerem parte de um mecanismo natural de defesa.