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Faltam negociar apenas 5% do acordo do ‘Brexit’

FOTO Reuters
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Apenas 5% do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia ainda não estão negociados, pretende dizer hoje a primeira-ministra britânica, Theresa May, numa tentativa de apaziguar os seus próprios deputados sobre os planos para o ‘Brexit’.

May vai hoje à Câmara dos Comuns, no parlamento britânico, informar os deputados sobre as discussões que tiveram lugar na semana passada no Conselho Europeu, em Bruxelas, incluindo sobre o que se discutiu sobre o ‘Brexit’.

O gabinete da primeira-ministra adiantou que esta vai vincar que “a grande maioria” das questões está resolvida, incluindo o estatuto de Gibraltar, o território britânico no extremo da Península Ibérica que Espanha reivindica.

Ao mesmo tempo, a primeira-ministra publicou hoje um texto no tabloide The Sun, onde avisa os leitores de que “as últimas etapas das negociações serão as mais difíceis de todas”, mas garantindo que “a meta está à vista”.

Porém, May enfrenta críticas dos seus opositores políticos, sobretudo no próprio Partido Conservador, relativamente à sua estratégia para a saída da UE e futuras relações com o bloco europeu.

A contestação subiu de tom desde que May sugeriu, na semana passada, que o Reino Unido poderia aceitar permanecer vinculado às regras da UE por dois anos ou mais durante um período de transição após a saída, em 29 de Março.

O principal obstáculo para um acordo tem sido encontrar uma maneira de evitar postos alfandegários e outras barreiras na fronteira entre a Irlanda do Norte, território britânico, e a Irlanda, país membro da UE.

Ambas as partes concordam que não devem haver fronteiras físicas que possam complicar os negócios de empresas e as vidas de residentes de ambos os lados e pôr em causa o processo de paz negociado para a Irlanda do Norte.

Bruxelas rejeitou a proposta de May para uma zona de comércio livre para bens e produtos alimentares com a UE e Londres rejeitou a solução europeia de manter a Irlanda do Norte no mercado único até ser concluído um entendimento para as relações comerciais.

O Conselho Europeu da semana passada terminou num impasse, mas tanto o governo britânico como os dirigentes europeus mostraram-se confiantes de que será possível fechar um acordo no outono para que os parlamentos britânicos e europeus possam aprová-lo antes do dia do ‘Brexit’.

Na terça-feira, May preside a um conselho de ministros onde a ideia deverá de novo ser discutida com membros, como a ministra do Trabalho, Esther McVey, e o ministro do Interior, Sajid Javid, que, segundo o Daily Telegraph, manifestaram receios de que o Reino Unido fique amarrado indefinidamente à UE.

E na quarta-feira, realiza-se uma reunião do comité parlamentar do partido Conservador, onde se poderá discutir uma possível moção de censura à líder do partido e, caso fosse bem-sucedida, uma consequente eleição interna.

O espaço de manobra de May é limitado não só pela pressão dos conservadores pró-’Brexit’, como pelo aliado norte-irlandês do governo, o Partido Democrata Unionista, que se opõe a qualquer compromisso com a UE e que já ameaçou votar contra o orçamento que será apresentado na próxima semana.

Contra a estratégia do governo de May estão também os deputados pró-UE, que querem manter laços estreitos com o bloco depois do ‘Brexit’, alguns dos quais defendem um novo referendo, a favor do qual cerca de 700 mil pessoas manifestaram-se este sábado em Londres.

Neste ambiente tenso, vários políticos já vieram alertar para a linguagem que tem sido usada contra a primeira-ministra, incluindo a rival Yvette Cooper, que denunciou os deputados que falam sob anonimato aos jornais, onde usam termos como “esfaquear”.

“Esta é uma linguagem vil e desumana contra uma mulher deputada, contra uma primeira-ministra que, independentemente de se discordar dela ou não, é alguém que está a exercer um cargo público”, afirmou hoje a deputada trabalhista na rádio BBC 4.