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“Direitos humanos estão na sombra dos interesses económicos”, diz Joshua Wong

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O jovem activista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong disse, em entrevista à Associated Press, que a ascensão da China significa que os direitos humanos estão cada vez mais em perigo de serem ofuscados pelos interesses económicos globais.

Joshua Wong, activista de 21 anos que ficou conhecido como o rosto do movimento ‘Occupy Hong Kong’ ou ‘Revolução dos Guarda-Chuvas’, respondia a uma questão sobre as suas expectativas em relação à visita à Ásia do Presidente dos EUA, Donald Trump, que inclui a China e outros quatro países.

O conhecido activista foi condenado em agosto a seis meses de prisão, num caso que marcou o início da ocupação das ruas de Hong Kong, em 2014, no âmbito dos protestos em prol do sufrágio universal para a eleição do chefe do governo da cidade. No mesmo processo os também activistas Nathan Law (24 anos) e Alex Chow (27 anos) foram condenados a oito e sete meses de cadeia, respectivamente. Wong e Law foram libertados sob caução em 24 de outubro e aguardam a audiência sobre o recurso das sentenças, a 07 de novembro.

“Os interesses económicos prevalecem sobre os direitos humanos”, disse Joshua Wong. “Infelizmente isso parece ser uma tendência comum no mundo” sob uma China em ascensão, acrescentou.

Sobre a visita à Ásia de Trump, o jovem activista disse que há “muita incerteza” porque “ninguém consegue prever o que, de repente, ele decide publicar na sua conta de Twitter”.

Já há cerca de um ano, Joshua Wong tinha instado o Presidente dos Estados Unidos a apoiar os direitos humanos em Hong Kong, ao falar num evento no Capitol Hill.

Na entrevista publicada hoje pela Associated Press, Wong advertiu Trump a não permitir que os direitos humanos percam terreno para os interesses económicos e comerciais.

A título de exemplo, o jovem referiu o caso do activista britânico Benedict Rogers, que foi impedido de entrar em Hong Kong, num caso que gerou suspeitas de um pedido directo da China. Para o activista, essa é uma situação que pode repetir-se.

“Pode chegar o dia em que políticos dos Estados Unidos são impedidos de entrar em Hong Kong e quando políticos ou empresários dos Estados Unidos não conseguirem entrar neste centro financeiro internacional, como é que eles podem ficar silenciosos em relação à erosão da autonomia de Hong Kong?”, questionou.

Pequim prometeu deixar Hong Kong manter uma elevada autonomia e liberdades depois da transição para a China, em 1997, sob o princípio “Um país, dois sistemas”, mas activistas pró-democracia e deputados têm denunciado que os dirigentes comunistas estão a renegar a promessa.

Joshua Wong instou os Estados Unidos e outros países ocidentais a prestarem especial atenção a “como o modelo da China ameaça a estabilidade da Ásia-Pacífico”.

O modelo da China é uma referência para o desenvolvimento económico sem as correspondentes reformas democráticas.

Joshua Wong, que também aguarda sentença por outro processo, diz estar preparado para voltar para a prisão. O jovem activista completou 21 anos atrás das grades no mês passado, e disse que esta “pode não ser a última vez que celebra o aniversário na cadeia”.

O seu nome tornou-se sinónimo do movimento pró-democracia de Hong Kong, mas o jovem defende que é importante não esquecer os outros que também estão a pagar o preço, mas que não atraíram a mesma atenção internacional.

Cerca de duas dezenas de jovens activistas estão a cumprir penas de prisão maiores do que a de Joshua Wong, “só porque pediram mais democracia, liberdade e direitos humanos através de uma desobediência civil não violenta”.

Wong planeia continuar a lutar pela democracia plena em Hong Kong. A curto prazo, disse que o seu partido político, Demosisto, vai anunciar na próxima semana um candidato às eleições intercalares para preencher alguns dos lugares deixados vagos no Conselho Legislativo após a desqualificação de deputados, como aconteceu com Nathan Law, na sequência de uma acção em tribunal interposta pelo governo.

O activista disse que há muito trabalho a fazer a longo prazo, de forma aos residentes de Hong Kong “ajustarem a sua mentalidade” para resistirem ao reforço do controlo de Pequim.

“Continuo a acreditar que as pessoas de Hong Kong podem superar, apesar de estarmos dentro da prisão estabelecida pela China”, afirmou.