Madeira

Há 100 anos a ‘revolução’ das indústrias do vidro e do papel e pedia-se... um novo hospital

DIÁRIO dessa época apontava a iniciativa privada como motor da economia e a mudança de instalações do centro do Funchal para a periferia...e as indecisões nesse processo

None

“Duas grandes indústrias na Madeira”, noticiava o DIÁRIO a 12 de Fevereiro de 1920, num texto assinado por J. A. de Freitas. Dá destaque a dois projectos privados que estavam em andamento para transformar ‘trachites’ (traquito), uma pedra muito comum por cá por ser de origem vulcânica, e o seu uso para transformação em vidros de vários géneros (garrafas e utensílios domésticos), mas também o fabrico de papel, com a matéria-prima extraída das folhas da cana sacarina e da bananeira, portanto em maior abundância na altura.

Neste dia há 100 anos, o escrito começa por dar uma percepção muito clara (inclusive muito subjectiva além de objectiva com factos) da importância desses dois projectos empresariais em andamento. “Teem-se sempre enganado todos aquêles que esperam que o governo, constituído em Providência, olhe por tudo o que diz respeito ao desenvolvimento da riqueza do país. Em nenhum dos países prosperos se observa semelhante forma de vêr. O que em todos êles facilmente se reconhece é que a actividade e as grandes iniciativas particulares são os maiores agentes da sua prosperidade”.

Citando exemplos de Inglaterra, Estados Unidos da América ou Japão, nos três continentes, revelam que “aos governos apenas compete auxiliar as iniciativas particulares, protegendo, dentro de certos limites, as industrias o procurando, por leis prudentes, o seu incremento. Esperar que dêles advenha toda a iniciativa donde dimane a riqueza do país é a perniciosa ilusão de muita gente que, na sua qualidade de eternos sonhadores, e incompetentes para entrarem na vida prática, aguardam todos os benefícios dos altos poderes”, advertia.

Nota, depois de explicar o que eram os dois projectos, a conclusão: “Será, pois, a Madeira, em breve tempo a séde de duas grandes industrias, qualquer delas de grande valor para o nosso meio. E nós não podemos deixar de dar os nossos emboras aos dois homens de iniciativa, a cuja boa vontade e esforços tudo isto se deve.”

Hospital que nunca sai do papel

Outro texto com um título bastante elucidativo - “Um grande melhoramento para o Funchal, indefinidamente adiado - Progresso de ‘caranguejo’” - começa assim: “Palavras! Palavras! Para quê? Palavras, o vento leva-as, perdem-se no ar, rebentam e diluam-se como bolas de sabão. Obras e só obras, eis o que é preciso, eis o que é util e pratico. Idêas convertidas em factos, alvitres materializados em actos de força e energia inteligentes e fecundos, de união e de solidariedade proprias dum povo civilizado que sabe o que quere, quando precisa reclamar o reconhecimento dum direito, a satisfação duma necessidade indispensavel ao seu progresso e bem-estar, a pratica duma justiça.”

Um início mobilizador para constatar que o “Funchal está voltando aos seus antigos tempos de movimento e animação. Vai aumentando de dia para dia o numero de vapores (navios de cruzeiro) que trazem á nossa cidade os que viajam por necessidade ou por prazer. Alguns deixam se ficar dias ou semanas atraídos pela benignidade e doçura do nosso clima. Outros, a maioria, apenas se demoram algumas horas, mas o tempo suficiente para surpreenderem e notarem o nosso atrazo, a falta do que é mais essencial a uma cidade culta. Apenas desembarcam e avançam alguns passos na Avenida Gonçalves Zarco deparam com um grande edifício na frente”.

E que edifício era esse?! O hospital de então, hoje o Palácio do Governo Regional, construído no final do século XVII. Também serviu de Misericórdia e Escola Médica do Funchal. O autor do texto reclamava o que se pedia então, a mudança do hospital para fora do centro, num local mais calmo para o bem dos doentes, mas também mais higiénico para o bem dos sãos. A ideia seria passar para um edifício ideal na ‘Incarnação’ e transformar o hospital para instalar as repartições públicas.

Duas notícias que marcaram a edição 13.776 do 44.º ano deste projecto jornalístico.