Uma morte não anunciada

O general iraniano Qassem Soleimani (QS), morto no Iraque pelas aviação militar dos EUA, comandava a Força Quds, forças especiais para ações externas da Guarda Revolucionária Islâmica. Foi o estratega da criação do chamado “Eixo da Resistência” que vai desde o Golfo de Omã passando pelo Iraque e Síria até ao Líbano, procurando impor uma hegemonia político militar expansionista do Irão no Médio Oriente, através da ação de milícias xiitas financiadas e armadas pelo Irão, que foram determinantes para a vitória de Assad sobre os rebeldes sírios e sobre o Daesh na Síria, e que no Iraque perpetraram ataques e atentados contra as tropas americanas, matando também milhares de civis iraquianos. Ironicamente na guerra contra o Daesh no Iraque as suas milícias chegaram a ter o apoio da aviação militar americana. Sempre que tal servia os seus interesses na luta contra inimigos comuns não se coibia de colaborar com os EUA, tendo-lhes fornecido informações para a guerra contra os Talibã no Afeganistão. Era acusado pelos EUA e pelos seus aliados no Médio Oriente de ser o mentor de diversos atentados contra diplomatas, instalações militares e outros interesses desses países. A morte de QS teve como imediata e nefasta consequência o abate de um avião comercial atingido por 2 misseis iranianos matando 176 civis, nenhum deles americano, e o recrudescer das manifestações em Teerão contra o regime dos ayatollahs. Quanto às repercussões futuras teremos de aguardar para ver. Não creio que a sua morte se deva a um capricho de oportunismo político de Trump, mas sim a uma “jogada estudada” face ao atual xadrez político do Médio Oriente, para levar o Irão a reconsiderar a sua política regional e a aceitar um novo acordo nuclear mais consentâneo com os interesses americanos e dos seus aliados na região. Resta saber até que ponto a morte de QS não foi também um alívio para alguns protagonistas políticos iranianos face ao crescente aumento do seu carisma e poder belicista.

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