Programação em canal aberto

Reformado e engripado, fui vendo televisão em canal aberto e deparei-me com um cenário que pensava ser irreal : i) Cultivam-se banalidades e histerismos pré fabricados e anti-naturais, em casas construídas de raiz para esse efeito; ii) Desrespeitam-se tragédias reais do tipo «fui ao médico em consulta de rotina e saí de lá com um cancro incurável»; iii) Dá-se voz a episódios violentos do género «mulher mata à facada o próprio marido», surgindo logo de seguida 2 ou 3 «especialistas criminais» a tentar explicar o inexplicável; iv) Convidam-se alguns iluminados, que botam palavra sobre tudo e todos, fazendo lembrar alguém que todos bem conhecemos; v) Apela-se, com uma frequência vergonhosa, ao «telefonema para o 761 ... ... que vai mudar a sua vida por 1,00€ + IVA»

Antes dos telejornais, bate-se no fundo da mediocridade com programas tops, carros de amor e jantares em restaurantes, tudo para o engate e para uma ou mais noites bem passadas (a jantar, claro está) .

Em certos horários ditos nobres dos fins de semana, servem-nos programas do tipo voices e danças que duram 2 a 3 horas, mas que só têm cerca de 20 % de espectáculo real (o canto e a dança) sendo que os restantes 80% são consumidos com futilidades e gracejos sem graça nenhuma de jurados e de apresentadores. E, para não variar, massacra-se escandalosamente com o apelo «ligue para o 760 ... ..., porque a sua opinião é decisiva, porque você é quem decide». Se conseguirmos resistir a tudo isto, então de certeza que não morremos ao ver e ouvir os catedráticos da bola dos chamados 3 grandes, a vomitarem asneiras atrás de asneiras, sendo uma missão impossível eleger o menos mau, porque cada um é pior que o outro.

Pobre Televisão. Nunca desceste tão baixo na qualidade da tua programação. Mas se as audiências sobem em flecha com este tipo de programas, então é porque a minha mente ficou no século passado e foi ultrapassada por esta modernidade cultural e educacional dos portugueses. Restam-me alguns canais codificados que felizmente posso tê-los. Quero contudo ressalvar os canais RTP que, na generalidade, ainda não desceram ao nível dos outros. Bem hajam por isso.

José Luís Macedo