Os Mouras do século XXI

O Juiz Neto Moura, pela segunda vez, veio castigar uma vítima de violência doméstica, libertando o agressor da pulseira electrónica a que tinha sido submetido. Levantaram-se muitas vozes por este país fora condenando o acórdão do dito Juiz Neto, mas um senhor que assina como Joaquim A. Moura e que normalmente escreve no DN da Madeira, veio novamente apoiar o Juiz Neto Moura, como já o tinha feito em 2017, quando foi proferido o acórdão em que defendia que uma mulher adúltera deve ser punida, como se estivéssemos ainda na era antes de Cristo.

Estes machistas estão assustados com as conquistas que têm sido alcançadas em favor da igualdade de género. No Séc XX, na Europa, foi conquistado o direito ao voto para as mulheres, os direitos de maternidade em relação aos filhos, o direito ao corpo, o direito ao aborto, o direito ao salário que os maridos é que tinham o direito de gerir, assim como os bens que pertençam à esposa, entre muitos outros direitos.

A violência doméstica é um crime contra os direitos humanos, hoje aceite pelos países democráticos e até pela ONU. Mas os machistas enfrentam as leis e não querem ser punidos. O senhor Joaquim A. Moura, numa carta do leitor no DN publicada no dia 2/3/2019, veio novamente defender o Juiz Neto Moura dizendo, entre outras “Um homem entra em casa e vê a mulher a usar a sua pomada dermatológica noutro homem. Reage mal e é preso...A luta agora é contra o juiz que divergiu...” Para o senhor J.A.Moura, o marido deve fazer justiça por suas mãos. E será que ele estava lá a ver a mulher trair o marido? Tenha juizo e pense que as mulheres também têm direitos legais.

O Juiz Neto de Moura está indignado contra as pessoas que levantaram a voz contra ele e ameaça com processos judiciais. Na Madeira, nós já tivemos isso durante anos, mas a pessoa que levantou imensos processos aos adversários políticos já caíu do poder. Atrás de tempo, tempo vem.

Nos finais dos anos 60 do século passado, o regime fascista foi fortemente contestado, até com as canções de intervenção. Um jovem dessa época cantou uma canção em que sobressaía o seguinte: JÁ NINGUÉM CONVENCE O RIO A IR DA FOZ À NASCENTE. E foi isso que aconteceu. As lutas continuaram, os capitães de Abril deram um golpe de Estado e fez-se a Revolução em Portugal. Ontem como hoje, os prepotentes são vencidos e os machistas também cairão, porque ninguém é capaz de vencer sempre sem razão.