O speed de Marcelo

Parece que chega primeiro que os outros, mas não. Quando chega já o fogo vai longe e deixou mortos pelo caminho. Ele até devia saber que, depressa e bem não há quem. Mas o homem, professor, doutor, comentador, frequentador, livreiro, viajante e presidente, ignora tal princípio básico, que numa primária abre o início escolar. É no entanto um aprendiz de feiticeiro, de mágico, de contorcionista, de sabichão, fingidor q.b. para quem lhe aparar a estratégia. Artista de rádio, mas mais de têvê. Estagiou na comunicação social de ponta. Aprendeu a lição toda, no caso. Vê ao longe, mas de perto turva-se-lhe a visão. Oferece medalhas, que o zé das ditas não consegue fornecê-lo a tempo e horas. Ele vê heróis em bombeiros, em militares parados ou em turismo por teatros de guerra política num vai-e-vem, em seleccionadores de marginais equipados, mas fecha os olhos aos que batem forte e feio em famílias à saída de um estádio de futebol. Ele enche o peito a corredores de fundo, em gente à rasca como se fossem casos únicos, em gente da bola e da Bósnia, que alcançam êxitos e fortuna, por tanto darem ao pé e ao gatilho, etc. Em cada um, por feito e obra do acaso, ele vê um Herói. Tira um reconhecimento da cartola, mal um sem-abrigo desenfiado do cartão, um asilado em casa de partida desta vida, e elege-o, um herói. Só tem dificuldade em enxergar, aquele que enriquece de verdade o país. Aquele que morre no tractor a lavrar o campo, no lagar, na pedreira funda e pesada, aquele que emigra porque a terra não lhe dá sustento, o pai que sem dinheiro aguenta a casa e a educação dos filhos mesmo sem trabalho, ou com pensão de miséria. É um fundista mas sem resultados para o apuramento da marca real. Chega sempre com atraso, depois das labaredas lamberem tudo e todos - e beija meio mundo. Aquece o ambiente com tanta ternura. Amansa. No entanto, enaltece mais depressa um desamparado que remexe a lixeira velha e antiga e com mais “clientes” sempre a chegar, ao bidão, ao contentor, ao balde estacionado na rua. Favorece-o e abre-lhe as portas do recolhimento e da boutique, mas à mulher que pariu um filho e logo dele se desfez por não ter condições para o criar e ela mesmo puder levar a vida na decência, nem uma palavra a tempo, de modo a não ter que o fazer tardiamente após sentir condenação da sua consciência. Já a jovem mulher, que vestia miséria dos pés à cabeça e de coração ferido, estava a caminho da prisão, sem antes ter passado pelos cuidados intensivos, a quererem diagnosticar-lhe o seu sofrimento, e de que tratamento médico necessitava!