Estupidezes

“Os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem” é a frase lapidar de um artigo de opinião no jornal Público do Secretário de Estado das Comunicações (SEC) onde defende a opção Montijo para o novo aeroporto. Que os pássaros não são estúpidos já o sabemos, já o mesmo não se pode dizer do SEC ao sugerir a probabilidade da eventual adaptação dos mesmos aos danos que a poluição provocará no seu habitat natural em resultado da construção do aeroporto e pelos aviões cujos reatores poderão exterminar dezenas de pássaros em segundos e provocar um desastre que poderá custar centenas de vidas humanas. Igualmente estúpidos são os considerandos paternalistas do SEC sobre Greta Thunberg e os defensores de alternativas com impacto ambiental negativo bem menor. O SEC desconsidera não só a gravidade dos riscos ambientais, mas também questões relevantes de natureza económica e de segurança evidenciadas por vários peritos com reconhecida e diversificada valia técnica que apontam outras alternativas como sendo melhores a todos os níveis para a implantação do aeroporto. “Não há aeroportos sem impactos” é outra frase “impactante” no referido artigo do SEC. Resta saber quem irá perder ou ganhar mais com esses “impactos”. Perdedoras de imediato serão as populações do Montijo e dos concelhos vizinhos com o aumento brutal dos diversos níveis de poluição a que serão sujeitas, ruído, concentração de gases de efeitos tóxicos, fauna, flora, produções agrícolas e a médio longo prazo o País. Ganharão os especuladores imobiliários e talvez este governo com eventuais dividendos eleitoralistas que a obra poderá trazer-lhe. As opiniões subjetivas e de caráter meramente político dos representantes do governo não contribuem para esclarecer se a opção Montijo é a melhor. Para que fiquemos cientes da melhor opção, torna-se necessário confrontar a argumentação de natureza ambiental, económica e de segurança do governo com a dos que refutam o Montijo e defendem as outras alternativas.

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