Dia mundial de Saúde mental. Quem reabilitar?

Saúde mental será o contrário de loucura? Deixemos por agora os deficientes. Há dias enfrentei um problema estranho: como dizer, preto no branco, o que é saúde mental. Faltavam os termos. Alguns sítios da internet faziam diversas considerações, mas faltava um conceito breve e claro. Eu devia saber, como autor de um manual de saúde mental. Uma definição tradicional chama louco à pessoa perigosa para si e para os outros, perigo para a sua e a vida alheia. Os doentes mentais desde há séculos (milénios) que são acorrentados e fechados por serem perigosos e meterem medo. O tal estigma e vergonha, talvez, mais para os familiares e a sociedade! Numa reunião alguém dizia que os loucos andam lá fora; e outro, que alguns passam o dia a beber nas tascas e estragam a sua vida e a da família. Será doença mental? Se os que mais atentam contra a vida do próximo andam por fora; e se tribunais seus peritos, psiquiatras e políticos nem sempre evitam perigosidades trágicas, os muros para que servem? Afinal, fazer bem a si mesmo e aos outros, fazer mal a si mesmo e aos outros, eis a questão. Louco por ameaçar ou interromper a vida de alguém é o tema; e serão também temas os negócios de comprar e vender pessoas; de mercadejar armas e fabricar produtos perigosos. Assim, os loucos serão em número maior que se pensa. Loucos são os que descartam ou os descartados? Saúde mental tem a ver com a mente, pensar, verdade e distinguir o bem do mal, do ser bom e fazer o bem a si e aos outros; e não fazer mal. Que dizer, então, desta afirmação famosa ainda hoje praticada? «Um príncipe...não pode praticar todas aquelas coisas pelas quais os homens são considerados bons, uma vez que, frequentemente, é obrigado, para manter o Estado, a agir contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião» (Maquiavel). Será por isso que ainda hoje há Estado a mais e bem comum a menos? E que pensar desta outra consideração de descarte de pessoas de inteligência limitada e doentes? «Construir asilos para os imbecis, os aleijados e os doentes, ...criar leis de proteção dos pobres...», usar cuidados médicos e vacinas para prolongar a vida «é altamente injurioso para a raça humana». Não é uma reflexão de Hitler, o seu autor é Charles Darwin. Loucos são os que descartam ou os descartados? Mandar assassinar milhões de cidadãos justifica o diagnóstico de loucura? Nazis, estalinistas, maoístas gozavam de saúde mental ou enlouqueciam? Descartavam doentes ou eram loucos? Ocorre perguntar, ainda, se haverá algum texto que mais promova a saúde mental da humanidade que o Evangelho e a Igreja quando lhe é fiel? E promover a saúde e a vida dos fracos, pequeninos, doentes? Não, tanto mais que o seu Autor é um descartado e ressuscitado. Penso que não é muito acertado separar a saúde mental da saúde geral. Os que estudam o cérebro e os nervos e suas conexões com os genes, as hormonas, os estímulos do pensar, sentir, emoções e impulsos tendem a definir saúde como harmonia geral do organismo, mente e espírito pensante. E doenças, como distúrbios e desarmonias. Daí o conceito de saúde como harmonia de funções holísticas silenciosas. A saúde não faz barulho. A saúde é conexão da diversidade na colaboração para o bem e a vida do todo. Se o planeta Terra é a Casa Comum para o bem de toda a humanidade, como o presente Sínodo da Igreja está a tratar; cada pessoa (corpo, psique, pneuma ou espírito) goza de saúde quando concorre para o bem integral de si e de todos. E sofre de doença mental a pessoa que age contra o bem comum. Ocorre perguntar: para promover mais saúde mental, convém começar por reabilitar os que descartam os doentes e débeis ou começar por estes? Que celebrar no dia mundial da saúde mental?