Catalunha

No passado dia 8 de agosto, o Diário de Notícias publicou a carta de uma leitora que apresenta a sua visão do que é a Catalunha, uma visão subjetiva, certamente legítima no âmbito dos sentimentos, mas nunca do ponto de vista da verdade sobre a história de Espanha, sobre os espanhóis (catalães ou não) e desde logo muito longe da verdade sobre os acontecimentos políticos dos últimos anos. Não há na Espanha constitucional de 2019 – um Estado de direito parceiro de Portugal no espaço peninsular, na Europa e no diálogo latino-americano – nenhum político preso por “protestar” ou por “defender os seus direitos”. Os políticos que estão presos transgrediram a lei.

Há, em Espanha como em Portugal, leis, tribunais, normas de convivência democrática que zelam pela justiça para todos. Para todos. Não unicamente para aquela adaptada à minha maneira e ao meu projeto político e ao meu eventual sonho de independência. É certo que há hoje muitos catalães que desejam ser independentes de Espanha, mas também é certo que há muitos catalães que se sentem espanhóis e não veem como incompatíveis essas duas pertenças.

Que diríamos nós, portugueses, se agora um grupo de pessoas de uma das regiões do país, organizasse uma votação, lhe chamasse referendo e decidisse dizer que essa decisão se deveria impor ao resto do Estado e que nem os restantes portugueses, nem os nossos governantes eleitos, nem os nossos tribunais, tinham nada a dizer sobre o assunto?

Nós, portugueses que amamos Espanha, que adoramos a Catalunha, não nos deixemos seduzir por meias-verdades, por discursos simplistas e vitimistas de opressão, de perseguição, de exílio. Isso, infelizmente, foi a dura realidade durante quase quatro décadas de ditadura franquista.

Felizmente, a Espanha e Portugal de hoje são há mais de 40 anos democracias onde todas as opiniões têm lugar, todos os debates são possíveis, todos os sonhos podem ser sonhados. Isso é a grande dádiva do pluralismo. Mas o pluralismo existe num enquadramento político e legal que é garantia de justiça e de paz social, e que não pode ser driblado fora das regras do jogo democrático para gosto de uns poucos.

Inês Espada Vieira