"Falta dinheiro e falta igualmente boas ideias e talvez gente nova nos lugares de decisão". A declaração pertence ao director-geral e administrador do hotel Orca Praia que se orgulha de registar uma taxa de ocupação anual na casa dos 93%, da qual os alemães são o suporte das receitas do hotel. Aurélio Rodrigues garante que a sua unidade é, a par de meia-dúzia de hotéis, uma excepção aquilo que acontece na Região. Se não for à custa da iniciativa privada, afiança, que dificilmente esta tendência tenderá a se modificar.

"Continuamos a fazer uma promoção errada e nos lugares errados", manifesta, referindo estar a direccionar a operação para mercados do Leste da Europa. Todavia, por exemplo, Aurélio Rodrigues confidência estar periodicamente presente nas principais feiras internacionais tentando vender o produto Orca Praia, totalmente auto-sustentável em matéria energética não vendo qualquer referência ao mar. "Depois de termos realizado forte investimento nos acessos ao mar e na construção de zonas balneares, acho damos um tiro no pé", lança a crítica.

Embora não sendo a principal característica "era essencial que os clientes soubessem que temos mar", lembrando que os turistas antes de escolherem um destino, tentam obter a maior informação possível e tudo aquilo que possa ser referenciado, poderá ajudar na hora da escolha final, manifesta, ciente que a sua ideia poderia ser aproveitada.

Daí que considere ser um erro não 'piscar o olho' clientes de sol e mar, porque conseguiríamos justificar alguns investimentos que foram feitos em zonas balneares. "Seria mais qualquer coisa que poderíamos adicionar ao destino", responde, desconhecendo que se faça publicidade na promoção das reservas naturais. Mais, "nenhum 'flyer' menciona que em 30 minutos um turista consegue estar no Oceano Atlântico depois de ter percorrido uma linda levada no interior da Laurissilva. Isto penaliza a nossa oferta", depositando crédito neste segmento.

Sem reserva assume que a estratégia de promoção basicamente "continua a ser a mesma de há 20 anos atrás. Vende-se exactamente igual", daí desafiar os governantes a tomarem outro rumo "sob pena de perdermos o comboio com outros mercados concorrenciais", alerta.

Ainda em matéria de promoção afirma sem temor que tem sido basicamente à custa dos 5% que despende do orçamento da unidade que consegue vender o produto Orca Praia. "Acho outro erro tremendo gastarmos tanto no desporto e não gastarmos idêntica fatia ou superior naquilo que é o motor da nossa economia. Faz-me confusão este tipo de prioridades, sem que com isto seja contra o investimento no desporto. O problema está em saber daquilo que dependemos", expressa num tom apreensivo.

Continuando a desenvolver o seu raciocínio, revela não ser "o sector público que promove o meu produto". Aliás, assegura contribuir "três vezes" para promover o meu produto e a minha Região. "Pago impostos, pago as quotas de associado e pago para comprar o meu espaço para promover a minha unidade". Logo, "o Estado não me faz qualquer favor. Pelo contrário. É tudo pago e bem pago", reforça, julgando que é à conta da carga fiscal que a Madeira está a perder qualidade e que possa tornar o destino "Madeira estagnada".

Na mesma tónica não consegue entender a existência da Associação de Promoção e da Direcção Regional do Turismo. "Duas entidades que têm rigorosamente as mesmas funções sem saber o que uma faz o quê", acreditando que uma destas acabará por desaparecer. "A corda rebenta pelo lado mais fraco. Acho que AP não se aguentará".

Concessão da praiaApesar de dizer que à custa da construção do passeio marítimo da Formosa/Câmara de Lobos a receita decresceu 500 mil euros em três anos, sempre foi um plano complementar do hotel Orca Praia com 248 camas poder ter a concessão da praia que tem defronte sem deixar de ser aberta ao público. Mas por razões "burocráticas" ou "falta de interesse público" a parceria não avança. "É só uma questão política. Não escondemos que gostaríamos de criar um pólo marítimo com segurança em terra, nadadores-salvadores, jogos aquáticos, totalmente assegurados por nós, desde que houvesse um acordo de concessão. Nós já fizemos ver isso às respectivas autoridades. Estamos à espera de uma resposta", confidência enquanto administrador que orgulha ter 40 prémios, um dos quais o SPAWellness.

Investir na qualidadeNos próximos anos está consciente que "será totalmente impossível ultrapassar a barreira dos 100 euros por quarto". Socorre-se do Revpar - índice muito utilizado na indústria hoteleira para avaliar e comparar as receitas de hotéis - para revelar que o preço de venda ano está tabelado nos 31 euros e uma ocupação média na casa dos 51%. "Por aqui se nota que a receita está errada e que nos próximos anos não vamos atingir essa meta que seria de facto excelente".

Director poliglotaAurélio Rodrigues é licenciado em Turismo com graduação em Gestão Hoteleira e um verdadeiro poliglota. Fala fluentemente, imagine-se, nove línguas (Português, Francês, Inglês, Alemão, Dinamarquês, Sueco, Espanhol, Italiano e Norueguês). O administrador do Orca Praia acredita que "a capacidade de comunicação é uma mais-valia para atrair clientes repetentes. Ao manter um diálogo profícuo a probabilidade do cliente regressar é maior", opina. Além disso, "afligia-me o facto de não poder comunicar com clientes oriundos do Norte da Europa, muito dos quais chegavam à Madeira sem saber se expressar em inglês. Era um constrangimento enorme, sobretudo quando era recepcionista, daí ter decidido apreender as línguas. Hoje, assumo ser uma ferramenta que quebra barreiras e que ajuda e muito no relacionamento com os nossos hóspedes".

Muito do sucesso da casa está no regresso dos clientes, confessa. "A melhor publicidade que podemos ter está na qualidade que oferecemos ou se preferir na qualidade que os clientes recebem".

DISCURSO DIRECTO

Média de taxa de ocupação/ano93%

Quota de repetentes67%

Preço médio quarto75€

Lema"Deus dê muita vida aos meus inimigos para que possam assistir às minhas vitórias"

Número99

Local de EleiçãoPraga