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Reportagens sobre racismo em Portugal e os “filhos da guerra” editadas em livro

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A Tinta-da-China publica neste mês em livro duas reportagens, uma de Joana Gorjão Henriques sobre o racismo em Portugal e outra de Catarina Gomes sobre os filhos que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial.

No livro “Racismo no país dos brancos costumes”, a jornalista do Público Joana Gorjão Henriques procura responder à questão “como é ser negro em Portugal no século XXI”.

A edição da Tinta-da-China, de 128 páginas, e disponível nas livrarias desde o início do mês, inclui um DVD de oferta com as reportagens feitas para o jornal.

Entre as histórias reais reveladas no livro, contam-se a de uma mulher que só foi chamada para uma entrevista num banco porque não colocou a sua fotografia no currículo, ou a de uma avó da Linha de Sintra que foi atirada ao chão por um agente da autoridade quando perguntou por que razão queriam prender o seu neto adolescente.

Joana Gorjão Henriques conta também a história de uma professora universitária a quem perguntaram, no hospital, se sabia ler e a de um advogado a quem um dia um polícia disse: “Um preto é sempre suspeito”.

Trata-se de histórias reais que acontecem em Portugal ainda hoje e que compõem “o retrato de um país que continua a viver no mito do não racismo”, descreve a editora.

“Um país que mais depressa condena um negro, um país que recusa a nacionalidade portuguesa aos filhos de imigrantes nascidos cá, um país onde ainda se encontram listas de escravos nos baús dos avós, entre outros brandos --- brancos --- costumes”, acrescenta.

A outra reportagem, a chegar às livrarias no dia 25 de maio, traça uma viagem que a ex-jornalista do Público Catarina Gomes fez à Guiné, em busca dos “filhos da guerra”, um dos maiores tabus entre os militares portugueses, e cuja história é contada pela primeira vez.

“Furriel não é nome de pai. Os filhos que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial” é o título do livro que conta, através de testemunhos reais, a história de crianças que ficaram para trás (em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau), quando terminou o conflito, e que há anos buscam uma identidade perdida, sem que o Estado português reconheça a dimensão desta realidade.

É a história de Fernando, por exemplo, a quem chamavam “resto de tuga”, sem ele perceber porquê, até ao dia em que descobriu que era filho de um português que combatera na Guiné.

Fernando procurou o pai pelo nome que achava que ele tinha, o único que a sua mãe decorou: furriel.

“Uma patente militar é pouco, mas Fernando não desiste”.

A história de Fernando repete-se com outros nomes: o de Óscar, sovado todos os dias pelo padrasto por ter nascido com a pele mais clara, ou o dos gémeos Celestina e Celestino, que guardam, aos 40 anos, a fotografia desbotada de um jovem militar que não quer conhecê-los, acrescenta a editora, adiantando que até hoje não se sabe o número de casos, porque estas contas nunca se fizeram.