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Leão XIV e os trabalhadores

As “condições indignas de trabalho” colocam dos maiores desafios ao mundo. Por isso, o novo Papa refere que escolheu o seu nome devido à necessidade de escutar o novo mundo do trabalho e as condições a que estão hoje submetidos os trabalhadores. Assim, com o seu nome, Leão XIV assumiu o compromisso de responder aos «novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho». Tal como, no passado, o Papa Leão XIII se deixou interpelar pela existência da “questão operária”, agora, Leão XIV afirma que a Igreja Católica «não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas».

O trabalho à distância, a Inteligência Artificial, a globalização, a emergência de novos hábitos e costumes, as redes sociais estão a produzir outra “mudança de época”.

Enquanto o desenvolvimento tecnológico permite elevados níveis de produtividade, as relações de trabalho estão marcadas pela instabilidade, pela intensificação do ritmo de trabalho e pela erosão dos mecanismos de proteção social. A “uberização” das relações de trabalho emerge hoje como um dos fenómenos mais interpelantes.

A “uberização” das relações de trabalho corresponde à crescente precarização dos direitos fundamentais do trabalho, à intensificação da exploração, à descontinuidade dos rendimentos, à imprevisibilidade da jornada, à ausência de proteção social e à dificuldade de organização coletiva.

Os impactos da revolução tecnológica e da inteligência artificial comportam outras alterações do mundo do trabalho. As projeções do Fórum Económico Mundial (2023) indicam que, até 2025, cerca de 85 milhões de empregos poderão ser deslocados pela mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas.

Também o teletrabalho acelera o processo de dissolução das fronteiras entre tempo de trabalho e tempo de vida. A crescente digitalização das relações laborais cria modalidades de vigilância e controle e traz a possibilidade de vigilância total do trabalhador.

Esta mudança de época está a provocar a pulverização dos locais de trabalho, a individualização das relações laborais e o enfraquecimento dos vínculos de solidariedade.

É neste contexto que, nos próximos tempos, teremos por parte de Leão XIV os questionamentos do ciclo vicioso da precarização laboral, novas perspetivas acerca das mudanças sociais, as questões éticas e os deveres de iniciativa social e política. Sendo fiel ao nome que escolheu, falar-nos-á da gestão do trabalho, da relação entre capital e trabalho, das tensões entre tecnologia e inteligência humana.

Aguardamos a palavra capaz de combater toda a indiferença e interpelar as consciências.