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A Madeira bateu no fundo

A Madeira, outrora símbolo de resiliência e autonomia, enfrenta hoje uma das suas maiores crises sociais e políticas. Após 48 anos de governação autonómica, a realidade social e económica da Região está longe de ser um modelo de sucesso, apesar de comunicacionalmente ser muitas vezes retratada. O que observamos é uma democracia fragilizada, onde o pessimismo quanto ao futuro se alastra como uma “praga”. O diálogo, essencial para a construção de qualquer sociedade saudável, está em falta. As instituições políticas não dialogam, os partidos não conversam e o cidadão comum vê-se cada vez mais distanciado do poder que o devia representar.

O que se está a passar com a Madeira? Que futuro estamos a construir?

Os dados são assustadores. A Madeira lidera a taxa de risco de pobreza a nível nacional, com 28% da sua população a viver em condições precárias. Mais de 71 mil madeirenses e portossantenses enfrentam diariamente dificuldades financeiras. Mas o mais preocupante é que estas disparidades não são apenas numéricas, estão geograficamente marcadas. A diferença entre as regiões Norte e Sul, Este e Oeste, entre o Funchal e os concelhos periféricos, evidencia uma ilha dividida, onde o desenvolvimento se faz de forma desigual e, frequentemente, injusta.

Como chegámos até aqui?

A resposta reside numa economia desequilibrada, fortemente dependente de dois pilares: o Turismo e a Administração Pública. O Turismo, embora vital para a Região, não é suficiente para garantir a sustentabilidade económica a médio-longo prazo. A Administração Pública, que deveria ser um motor de estabilidade, muitas vezes serve apenas para camuflar a falta de uma verdadeira estratégia de diversificação económica. A Madeira necessita de mais, muito mais. Mas as soluções apresentadas não chegam! Um dos grandes exemplos das falhas deste Governo é a crise da Habitação. Com preços médios de compra a rondar os 440 mil euros e as rendas médias nos 1750 euros mensais, a habitação tornou-se um privilégio acessível apenas a poucos. Esta crise imobiliária afeta especialmente os jovens, que se veem forçados a abandonar a sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Desde 1991, a Madeira perdeu 40% da sua população jovem entre os 15 e os 24 anos, com tendência a aumentar nos próximos anos. O que nos diz esta estatística? Que o futuro da Madeira está a ser “exportado” para outras regiões / países, que se beneficiam do talento e da força de trabalho que a Região tanto precisa. No entanto, parece não haver uma estratégia clara e concreta para reverter esta tendência. Onde estão os incentivos para os jovens recém-qualificados que querem criar o seu próprio emprego? Onde estão as medidas de apoio real para que os jovens empreendedores possam investir e crescer na sua terra? A promessa de redução de impostos, como o IVA e o IRS, continua a ser uma miragem. A Madeira tem direito a uma redução de 30% nos impostos, mas essa medida ainda não se reflete no alívio do fardo fiscal que pesa sobre as famílias.

O Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM) é outro dos pontos essenciais para a equação. Este deveria ser o motor de crescimento e inovação, sendo a sua reforma urgentemente necessária. As empresas sediadas na Madeira devem ser incentivadas a contratar jovens qualificados da Região, contribuindo para a criação de um mercado de trabalho dinâmico e capaz de reter talento local. Se o CINM não promover a integração dos jovens madeirenses, que futuro o CINM tem?

Além da Economia, as políticas de Apoio Social também deixam muito a desejar.

O aumento do Parque Habitacional público, bem como Programas de Arrendamento Acessível exclusivo para as Novas Gerações, poderiam aliviar o fardo sobre os jovens, garantindo que pagassem entre 25% a 35% do seu rendimento em rendas. Programas de Rendas Resolúveis, onde os jovens pudessem mais tarde adquirir a casa pela qual inicialmente pagaram rendas. Estas são soluções práticas que poderiam gerar estabilidade e a fixação dos jovens madeirenses e portossantenses.

A verdade é que, sem estas reformas, e muitas outras, a Madeira continuará a assistir, sem reagir à fuga dos seus jovens. A crise não é apenas económica; é uma crise de identidade, de valores e de esperança. O Governo Regional tem a responsabilidade de inverter este declínio, criando condições para que os jovens possam sonhar, trabalhar e prosperar na sua terra.

A Madeira, hoje, enfrenta uma escolha: ou se reforma de dentro para fora, construindo uma economia mais diversa, justa e inclusiva, ou continuará a assistir ao esvaziamento das suas potencialidades. Não podemos permitir que a nossa cultura e identidade se desvaneçam, à medida que os nossos jovens e talentos se esvaem.

O futuro da Madeira depende das decisões que tomarmos AGORA!