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Venezuela protesta com Países Baixos por "ocultarem" opositor Edmundo González

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Foto EPA

A Venezuela anunciou hoje que vai transmitir um protesto aos Países Baixos, por terem ocultado o ex-candidato Edmundo González, exilado em Espanha e que a oposição reclama ter vencido as presidenciais de 28 de julho último.

"Deram-lhe o estatuto de convidado, o que é irregular e não fomos informados (...) Vamos enviar uma nota de protesto ao Governo dos Países Baixos, porque devíamos ter sido informados, segundo os protocolos internacionais", anunciou o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil.

O anúncio foi feito através de um vídeo divulgado nas redes sociais, onde o ministro diz que o opositor esteve "escondido" na residência da embaixada do Reino dos Países Baixos, desde 29 de julho de 2024, desde um dia depois das presidenciais venezuelanas.

"Esconderam-no. Porque é que estavam a esconder esta informação?", questiona no vídeo.

Segundo Yván Gil, o plano do opositor "nunca foi uma questão eleitoral, uma vez que sabia o que iria acontecer na Venezuela" e por isso procurou refúgio "no mesmo dia em que os 'comanditos do terror' [grupos de simpatizantes] incendiavam esquadras da polícia, atacavam escolas, hospitais".

O chefe da diplomacua venezuelana faz ainda referência a um comunicado do homólogo dos Países Baixos, Caspar Veldkamp, no qual explica que insistiu na contínua hospitalidade do seu Governo, quando Edmundo González manifestou querer abandonar o país.

"Havia uma intenção de reter o senhor González Urrutia, na embaixada, contra a sua vontade", afirma.

No comunicado, Caspar Veldkamp, explica o contexto da situação após as eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela, quando eclodiram protestos contra os resultados oficiais, que deram a reeleição de Nicolás Maduro, e as forças de segurança responderam com violência em alguns casos, matando e ferindo pessoas.

"Para além dos manifestantes, também os membros da oposição venezuelana temem pela sua segurança. Vários deles foram detidos e alguns nunca mais foram contactados. Esta ameaça também se aplica ao candidato da oposição Edmundo González. Por conseguinte, a seu pedido urgente, no dia seguinte às eleições, decidi conceder-lhe hospitalidade (...) durante o tempo necessário", indicou o ministro neerlandês.

O comunicado explica que "no início de setembro", o opositor "manifestou a sua intenção de abandonar a residência e o país".

"Em resposta, falei-lhe da situação na Venezuela, da importância do trabalho da oposição e da transição para a democracia, e insisti na nossa contínua hospitalidade. Ele indicou que, apesar disso, queria partir e continuar a sua luta a partir de Espanha", descreveu.

Segundo o comunicado, "o Reino dos Países Baixos continua empenhado na defesa dos direitos humanos e na restauração da democracia e do Estado de Direito na Venezuela".

Edmundo González, que a oposição diz ter vencido as presidenciais de 28 de julho, deixou no sábado a Venezuela para se exilar em Espanha, após ter recebido os salvo-condutos necessários.

Antigo embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia, Edmundo González Urrutia, 75 anos, aceitou ser candidato nas presidenciais de 28 de julho de 2024, em substituição da opositora María Corina Machado, desqualificada pelas autoridades e impossibilitada de exercer cargos públicos durante 15 anos.

Em 03 de setembro, um tribunal venezuelano especializado em crimes relacionados com terrorismo emitiu um mandado de prisão para González Urrutia.

O ex-candidato é acusado pelo Estado de ter alegadamente cometido os crimes de "usurpação de funções", "falsificação de documentos públicos", "instigação à desobediência das leis", "conspiração", "sabotagem, danos no sistema e associação [para cometer crimes]".

O Ministério Público pediu a emissão do mandado de prisão por não ter comparecido a três intimações para prestar declarações sobre a publicação de uma página na Internet com atas recolhidas por testemunhas e membros das mesas de voto.

Mais de 2.400 pessoas foram detitas, 27 faleceram e 192 ficaram feridas em protestos contra os resultados eleitorais, desde finais de julho.