Yunus promete restaurar lei e a ordem no Bangladesh e saúda segunda independência
Muhammad Yunus saudou hoje uma "segunda independência" do Bangladesh e prometeu restaurar a lei e a ordem no seu regresso ao país para chefiar um governo de transição após a fuga da antiga primeira-ministra Sheikh Hasina.
"O Bangladesh criou um novo dia de vitória. O Bangladesh tem uma segunda independência", declarou o economista de 84 anos à imprensa e aos seus apoiantes, pouco depois de aterrar na capital, Daca, saudando-o como um "dia glorioso".
O Prémio Nobel da Paz de 2006 comprometeu-se a restaurar a "lei e a ordem" no Bangladesh, garantindo que essa será a sua primeira prioridade.
"Não podemos avançar se não resolvermos a situação da lei e da ordem", disse aos jornalistas e apoiantes ainda no aeroporto de Daca.
"O novo governo protegerá o povo e ganhará a sua confiança", acrescentou o economista de profissão, na sua primeira declaração pública aos meios de comunicação social, acrescentando que outra das prioridades do Governo provisório será reconquistar a confiança do povo.
O chefe do exército, Waker-Uz-Zaman, bem como outros membros importantes da sociedade civil e alguns dos principais líderes estudantis deslocaram-se ao aeroporto para o recebere,, de acordo com as imagens da televisão do Canal 24, num ambiente de segurança apertada.
O Prémio Nobel da Paz de 2006 será empossado hoje como chefe do novo governo provisório numa cerimónia em Daca, por volta das 20:00 locais (15:00 em Lisboa).
Yunus encontrava-se em Paris para uma pequena intervenção médica quando foi nomeado pelos líderes dos protestos para chefiar o governo.
O novo governo temporário será composto por cerca de 15 membros, disse na quarta-feira Zaman numa conferência de imprensa, afirmando que terá o apoio total do exército.
Uma das principais prioridades do governo será o restabelecimento da normalidade no Bangladesh, após o caos desencadeado pelos protestos estudantis e a violência com que foram reprimidos pelas autoridades.
Insistindo na necessidade de se "restaurar a lei e a ordem", Yunus apelou à população para que pare com os ataques e elimine as suas diferenças, sublinhando que a onda de violência "faz parte de uma conspiração".
"A indisciplina e a violência são grandes inimigos do progresso e do caminho que iniciámos. Temos de os fazer compreender, ou entregá-los à lei, mas não batendo-lhes", afirmou.
Yunus, conhecido como o "banqueiro dos pobres", foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2006 por ter fundado e concebido o Banco Grameen para combater a pobreza no Bangladesh, desenvolvendo o conceito de microcrédito, que concede empréstimos a pessoas pobres que normalmente seriam rejeitadas pelo sistema financeiro.
O economista de profissão tem mantido uma relação tensa com as autoridades desde que Hasina chegou ao poder em 2009.
Se a inimizade com Hasina levou Yunus a enfrentar dezenas de processos em tribunal, a queda da antiga primeira-ministra, após semanas de manifestações que fizeram mais de 400 mortos, catapultou o prémio Nobel para a linha da frente política.
O Bangladesh vive agora o quarto dia de vazio de poder, após a demissão de Hasina e a sua saída do país, sob a pressão dos protestos estudantis que começaram pacificamente a 01 de julho, mas que se tornaram violentos e acabaram por exigir a demissão de Hasina após a brutal repressão das manifestações.