Os (des)empregados e os escravos
A propaganda governamental não se cansa de propagandear aos quatro ventos que a taxa de desemprego na Madeira é das mais baixas do país. No final do 1º trimestre de 2024, a taxa de desemprego cifrava-se nos 6,1%, abaixo da média nacional. Não coloco em causa as estatísticas apresentadas regularmente.
Tenho dúvidas sobre a forma como são manipulados os desempregados, para os obrigar a sair das estatísticas e chegar aos números apresentados. Com efeito, os programas ocupacionais para desempregados e os estágios profissionais, ou de outra índole, fazem com que largas centenas de jovens (e menos jovens) deixem de ser considerados desempregados durante o tempo que dura a ocupação. Mas não nos enganemos: estes estágios e programas são, não raras vezes, uma forma de suprir necessidades permanentes de alguns serviços públicos e privados, pagando remunerações muito abaixo do Salário Mínimo em vigor na Região e explorando quem deveria ter um posto de trabalho efetivo, mas que, na realidade, é trabalhador precário. Por outro lado, deixam de ser consideradas desempregadas todas as pessoas que, não auferindo qualquer subsídio de desemprego ou outra retribuição, não renovam a sua inscrição no Centro de Emprego e, assim, saem das estatísticas.
Da mesma forma, não podemos ignorar que em muitos setores da nossa economia, agora pujantes, sobretudo nas áreas da restauração, comércio e hotelaria, existe um “batalhão” de trabalhadores que, auferindo o Salário Mínimo, ou pouco mais, trabalham demasiadas horas submetendo-se, por necessidade, a uma exploração que só enriquece, ainda mais, os patrões e escraviza quem trabalha. E ainda há gente com responsabilidades políticas e empresariais que têm a distinta lata de apregoar que “as pessoas não querem trabalhar”. Pena é que não queiram perceber que as pessoas não aceitam determinadas propostas indecentes de trabalho porque não suportam ser escravizadas, exploradas e mal pagas. Em resumo, os números do desemprego, propagandeados como sendo um sucesso da economia regional e das políticas do Governo da Região, não são mais que números virtuais falseados pela precariedade e pela exploração escrava. É, também por isso, que temos um “exército de pobres”, muitos deles trabalhadores explorados e enredados nas “giga-jogas” em que este governo os envolve para parecer que vivemos no paraíso de uma “paz social podre”.