Fact Check Madeira

Os partidos têm vantagem em apresentar as listas de candidatos às eleições o mais tarde possível?

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Miguel Albuquerque, ontem, no final do Conselho Regional do PSD, que se realizou na Ribeira Brava, afirmou que as listas de candidatos apresentam-se sempre “o mais tarde possível”. Mas haverá sempre vantagem em apresentar as listas o mais tarde possível?

A resposta à questão levantada depende de um conjunto de factores, que variam muito de partido para partido.

O marketing eleitoral, como os demais, deve de obedecer ao princípio da comunicação no momento certo, sob pena de falhanço. Uma mesma comunicação em diferentes momentos pode ter resultados totalmente diferentes.

O momento em que é revelado um cabeça-de-lista pode obedecer a diferentes critérios relativamente aos que definem o momento de apresentação de uma lista de candidatos.

Quando estão em causa partidos, há candidatos óbvios e outros nem tanto. Por exemplo, nas próximas eleições regionais, PSD e PS têm cabeças-de-lista óbvios e assumidos. Essa não será novidade. Mas, se assim não fosse, em especial para um partido de oposição, haveria que escolher o momento certo para o revelar. Se se tratar de uma figura desconhecida, a revelação do nome tem de ser feita a tempo de ganhar notoriedade, mas não demasiado cedo. Se o for, corre o risco de se desgastar muito e, quando chegar ao momento eleitoral, não se apresentar no potencial máximo.

Mas, ainda no caso de ser alguém sem notoriedade pública, se a apresentação for demasiado tarde, há o risco de não haver tempo para ser devidamente apresentada e tornar-se conhecida dos eleitores e, por isso, não poder recolher as preferências destes.

Uma das razões para os partidos retardarem a apresentação dos seus candidatos é preservá-los ao desgaste que os demais partidos lhes vão provocar. A partir do momento em que são conhecidos, os opositores tentam encontrar os pontos fracos e expô-los, o que sempre provoca desgaste, independentemente de corresponderem ou não totalmente à verdade. Mas esse é também um processo que aporta notoriedade ao visado.

Outra das razões para retardar a apresentação de candidatos, que se verificam, nomeadamente na Madeira, é a de evitar desistências. Por vezes, em especial nos partidos mais pequenos, os candidatos desistem das listas por sofrerem pressões nesse sentido, tanto de entidades públicas, como privadas e até por parte de familiares. Esses relatos são comuns e não só no mundo da política.

Há, no entanto, uma razão de peso maior para partidos como o PSD-Madeira retardarem ao máximo a revelação das listas de candidatos: manter a unidade interna.

Elaborar listas num partido de poder é optar por uns em detrimento de outros e ordená-los, em ranking. Isso frusta muitas expectactivas e cria incompreensões entre os preteridos ou entre quem vai antes ou depois, em lugar elegível ou não elegível. Uma realidade que pode provocar danos eleitorais por desmotivação de militantes ou até de boicotes aos candidatos.

Essa é uma das razões mais determinantes para os grandes partidos atrasarem ao máximo o anúncio das listas de candidatos. Mas, como visto, há casos em que é preciso apresentá-los mais cedo, para que se possam tornar conhecidos dos eleitores.

Por isso, a afirmação de que é sempre importante apresentar as listas de candidatos o mais tarde possível é imprecisa. Porque, se é verdade que em boa parte dos casos há vantagens nisso, noutros essa vantagem é secundada por outros factores, como a necessidade de provir notoriedade ao candidato.

É importante apresentar as listas de candidatos às eleições o mais tarde possível.