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Papa alerta para "bruxaria" e condena "corrupção"

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O Papa Francisco advertiu hoje, terceiro dia de visita à República Democrática do Congo (RDCongo), para a "bruxaria" e "ocultismo", que aprisionam a sociedade nas "garras do medo" e exortou os jovens a colocarem de lado o "tribalismo".

"Pensem também na dependência do ocultismo e da bruxaria, que vos aprisionam nas garras do medo, da vingança e da raiva. Não se deixem encantar por estes falsos paraísos egoístas, construídos com base na aparência, lucros fáceis ou religiosidades mal orientadas", afirmou o pontífice num encontro com jovens no Estádio dos Mártires, em Kinshasa, capital do país africano com o maior número de católicos, e um dos lugares do mundo onde o número de fiéis continua a crescer.

O Papa argentino alertou ainda para "a sujidade da corrupção" e defendeu a virtude de "manterem as mãos limpas" porque "as mãos que traficam com dinheiro estão manchados com sangue".

"Se alguém tentar subornar-vos, prometer-vos favores e riquezas, não caiam na armadilha, não deixem que vos enganem, não deixem que o pântano do mal vos engula", afirmou.

Francisco advertiu igualmente contra "a tentação de apontar o dedo a alguém, de excluir alguém porque tem uma origem diferente", atitudes que descreveu como "regionalismo" ou "tribalismo".

"É mais fácil condenar alguém do que compreendê-lo, mas o caminho que Deus nos mostra para construir um mundo melhor passa pelo outro, pelo conjunto, pela comunidade. É fazer Igreja, alargar horizontes, ver o próximo em cada um, cuidar do outro", reiterou.

Depois de saudar a multidão a bordo do papamóvel, o pontífice ouviu vários testemunhos e proferiu uma homilia no estádio, com capacidade para 80.000 pessoas, no qual instou os fiéis a não acreditarem "nas tramas escuras do dinheiro".

O discurso de Francisco abordou ainda a necessidade do perdão como forma de reconciliar a sociedade na RDCongo, um país ferido pela guerra e pela violência.

"O perdão não significa esquecer o passado, mas sim não nos resignarmos à sua repetição. Significa mudar o curso da história. Serve para levantar aqueles que caíram. Significa aceitar a ideia de que ninguém é perfeito e que, não só eu, todos têm o direito de recomeçar", afirmou.

O cristão, acrescentou, "não ama apenas aqueles que o amam, ele sabe como parar a espiral da vingança pessoal e tribal com o perdão".

Francisco, que viaja numa cadeira de rodas devido a dores no joelho, irá encontrar-se hoje com o primeiro-ministro, Jean-Michel Sama Lukonde, na nunciatura apostólica em Kinshasa, seguindo daí para a catedral de Notre-Dame du Congo, construída em 1947, onde proferirá outro discurso perante padres e religiosos.

Como é habitual nas suas viagens, Francisco concluirá este terceiro dia da sua visita com uma reunião privada com membros da Companhia de Jesus.

Nos últimos meses, o leste da RDCongo tem sido palco de um recrudescimento da violência, sobretudo na fronteira com o Ruanda, uma zona com subsolo rico em coltan, fundamental para a indústria de equipamentos eletrónicos, e onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23) e as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), razão pela qual a visita do Papa a Goma, planeada no programa inicial, foi suspensa.

O M23 é acusado por Kinshasa de atuar com a colaboração do Ruanda, acusação que Kigali tem negado sempre, ainda que, pelo menos, dois relatórios das Nações Unidas a tenham confirmado.

Já o Ruanda, assim como o M23, acusam o exército congolês de se ter aliado aos rebeldes das FDLR, fundadas em 2000 por responsáveis pelo genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados na RDCongo, com o objetivo de recuperarem o poder político no país de origem. As Nações Unidas também confirmaram esta colaboração.

O líder da igreja católica tem apelado em sucessivas intervenções nos últimos três dias ao diálogo e ao perdão como veículos para alcançar a paz, um discurso que tem como contexto a morte de mais de 200 civis e a fuga das suas casas de quase 52.000 pessoas nas províncias de Ituri e Kivu do Norte nas últimas seis semanas, enquanto mais de 1,5 milhões de pessoas permanecem na região como deslocados internos.