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Professores ponderam radicalizar protestos para exigir salários dignos na Venezuela

Foto Humberto Matheus/Shutterstock.com
Foto Humberto Matheus/Shutterstock.com

Há 23 dias que os professores saem diariamente às ruas de várias cidades da Venezuela para exigir salários dignos e um contrato coletivo em negociação há mais de um ano.

Queixam-se da falta de resposta do Executivo, dizem ter menos rendimentos que um arrumador de carros e ponderam radicalizar os protestos.

"A radicalização do conflito deve-se ao facto de não ter havido resposta por parte do governo durante quase um mês de manifestações de rua", afirmou o presidente da Associação de Professores da Universidade Central da Venezuela (UCV).

Gregório Alfonso falava à Lusa, em Chacaíto (leste de Caracas), durante uma concentração de professores, profissionais de outros setores e reformados para exigir melhores salários.

Alfonso explicou que os trabalhadores querem um aumento salarial geral e um salário indexado ao dólar e à inflação.

"Perante a ausência de uma resposta, vamos passar a um processo inevitável de radicalização, a outras ações de luta, todas as que os trabalhadores estejam de acordo", frisou.

Os professores dizem que o Executivo afirma não ter recursos financeiros para os aumentos e dizem que foi o próprio Governo a anunciar um aumento da produção de petróleo de 650 mil para 850 mil de barris diários, o que representa quase mais dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros).

"Se não houver resposta, qualquer opção é possível, desde uma paralisação nacional de 24 ou 48 horas a uma greve indefinida", explicou.

Alfonso chamou a atenção que os protestos atuais são distintos dos do passado porque "é uma luta dirigida por trabalhadores, em particular os da administração pública, porque o Governo é quem pior remunera", acrescentando não estarem disposição de reeditar experiências do passado.

Este professor diz que o movimento sindical venezuelano é "assediado" há 22 anos, e que "O Governo deveria estar a chamar os professores ao diálogo, em vez de enviar a DGCIM [serviços de informações militares] e o SEBIN [serviços de informações] falar e perseguir os dirigentes sindicais".

Eexplicou ainda que para sobreviver os professores têm até quatro empregos, trabalham entre 12 e 14 horas diárias, em alguns casos como taxistas.

O presidente Sindicato Venezuelano de Professores de Caracas (FVM), Edgar Machado, adiantou que, enquanto decorrem os protestos, está no país uma delegação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), "sentada com o governo e as centrais sindicais".

"Não queremos um salário de 50 dólares por mês [45 euros], queremos o que está estabelecido na Constituição, que diz que a renumeração tem que cobrir as necessidades básicas de alimentação", salientou.

Machado explicou que o cabaz básico alimentar atual na Venezuela é de "490 dólares [445 euros], mas um professor ganha apenas seis dólares mensais [5,4 euros]", e como "as escolas estão degradas" vão "continuar nas ruas".

O contrato de trabalho está a ser debatido há mais de um ano, mas não há nada sobre a parte económica, porque "dizem que não há recursos", apesar de "desperdiçarem o dinheiro na contratação de orquestras e palcos", disse.

"Ou nos alimentamos com arroz e manteiga, ou compramos medicamentos. Por isso, apelamos ao Governo venezuelano, que se não prestar atenção aos seus trabalhadores, as escolas vão ficar sozinhas", disse.

Os professores acusam ainda o Governo venezuelano de tentar substituí-los por outros sem formação adequada e dizem que Caracas devia ter 15 mil docentes, apesar de 40% deles terem abandonado as escolas e muitos estão a vender café, porque até "o jovem que arruma os carros nas ruas, ganha mais que um professor preparado e que estudou".